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há mar em mim

16
Jan23

Sobre sábado, o dia que foi dos Professores

C.S.

No sábado, os professores portugueses voltaram a dar uma aula de cidadania ao país, ao ministro da educação e a todo o governo.

100000 professores apresentaram-se na capital. Não se deixaram intimidar pelas mensagens que lhes invadiram as redes sociais no dia anterior. Uma tentativa de demovê-los? Provavelmente.

100000 pessoas movidas pela certeza que estão a fazer o que é certo: lutar pela escola pública. E sim, o melhor para a escola pública também passa por tratar bem os seus professores e devolver-lhes o que lhes pertence.

100000 pessoas que se reencontraram e se abraçaram, porque todos nós já trabalhámos em tantas escolas, todos nós acumulamos km e somamos alunos e colegas com quem aprendemos ao longo dos anos.

100000 pessoas que cantaram, dançaram, apitaram, fizeram barulho, gritaram que "não pararão", porque chegou a hora de exigir o que lhes tiram há anos. 

100000 pessoas que suportaram a pandemia e nem aí, quando o país descobriu a falta que lhe fazem os professores, foram devidamente reconhecidos. Porque às vezes as palavras não são suficientes. É preciso dar condições dignas de trabalho, é preciso que o ordenado dê para pagar a casa no fim do mês, é preciso que as pessoas sejam avaliadas de forma justa, sem entraves à sua progressão. É preciso que o ambiente nas escolas nos permita respirar, rir e nos dê vontade de permanecer.

Sobretudo, é urgente que se ouçam os professores e se compreenda que eles só querem uma escola mais digna, justa e saudável para todos.

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20
Dez22

Reflexão sobre a Manifestação de sábado

C.S.

Já passaram dias suficientes para deixar as ideias assentar. Sei que não me vou exceder, ainda que possa parecer. 

Dou aulas desde 2008. O dia 17/12/2022 foi o dia em que me senti mais orgulhosa por pertencer à classe docente. Vi união, determinação e alegria, apesar do tema que nos juntou no Marquês ser sério. Vi esperança, apesar de há anos sucessivos só nos fecharem portas. Vi garra. E vi uma causa que é comum a todos servir-nos de motor: a defesa da escola pública. 

Os professores são dos profissionais mais mal tratados na função pública e, no entanto, sem eles um estado democrático não tem futuro. 

Acredito verdadeiramente que o Sr. Ministro, João Costa, está a colocar em causa o futuro da educação acessível a todos, porque deixar que a política entre deliberada e livremente nas escolas é condenar a igualdade. É colocar em causa a equidade na coloação de professores e, ao mesmo tempo, na gestão de alunos. 

Os professores estão a desaparecer porque são uma classe envelhecida e pouco atrativa, uma vez que ninguém quer trabalhar com a incerteza que esta profissão acarreta nos primeiros anos, (no meu caso foram 10, mas há quem seja contratado 15, 20...), nem com a certeza que nunca conseguirá chegar ao topo da carreira. E provavelmente nem a meio... Com os entraves que as quotas e os 5.º e 7.º escalões representam. 

Os professores são dos profissionais mais mal tratados deste país, todavia, continuam a ser das pessoas mais disponíveis, voluntariosas e empáticas que por cá temos. 

Esta greve chegou no momento certo. Um momento de saturação. Não aguentamos mais. E por isso tem sido um sucesso. É este o nosso tempo. Nem mais, nem menos. É hora de dizer basta. É hora de reinvindicar. Porque não somos nós que mentimos. Porque nos indigna ter um ministro que não só não nos valoriza como nos tenta denegrir junto da opinião pública.

E não, isto não é uma guerra de sindicatos. Isto é uma luta de professores. Dos que cá estão e querem permanecer. Mas com aquilo a que temos direito. 

Tem havido criatividade nesta greve, foi crescendo à medida que os meios de comunicação tradicionais nos ignoravam. Até que não puderam ignorar mais. 

Sábado fomos cerca de 25000 a dizer que basta. Já chega. 

Somos professores e temos valor. 

Somos professores e queremos respeito. 

Somos professores e temos razão. 

Por isso, não. Não nos calarão. 

Que venha janeiro. 

Temos razão.

E resistiremos. 

Janeiro é nosso. 

(Imagem aqui)

01
Nov22

Isto

C.S.

Um sonho que não se cumpre não é menos importante que um sonho cumprido.

Um sorriso que não é retribuído não deixa de ser um sorriso.

E o que nos queima por dentro não deixa de arder por fingirmos que não existe.

Tal como estas palavras que vos escrevo têm o mesmo valor, quer sejam ficção ou realidade.

E um "que se foda" não tem de ter sempre um alvo.

Ou sim.
Sei lá eu...

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09
Out22

Este tempo fugaz

C.S.

Vivemos num tempo apressado.
As horas sucedem-se e os dias e os meses e os anos. E nós não paramos.
Às vezes penso que nem nos é dado tempo para pensar. (Desculpem-me a redundância.)
Seguimos modas, pessoas, tendências...
Caímos no erro de querer capturar numa imagem todos os momentos e perdemo-nos nessa ânsia de não querer perder nada. Não paramos. Verdadeiramente. Não nos damos tempo para processar, assimilar e formar as nossas próprias opiniões. Parece-me que nos tornámos todos papagaios.
Há assuntos sobre os quais podíamos demorar um ano, ou muitos mais, a encontrar uma resposta. E mesmo assim não conseguir. E estaria tudo certo. Mas esta época não nos permite. Vivemos na era do fugaz. E mesmo sabendo que tudo se apaga não há tempo para refletir sobre nada disto.

O céu do final de tarde (de ontem).

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26
Set22

Não acredito

C.S.

Não acredito em pessoas que dizem frases como "Eu sempre fui assim e nunca vou mudar.". E sabem porque não acredito? Porque esse tipo de pessoa não existe.

"Nunca" e "sempre" são capazes de ser das palavras mais traiçoeiras que podemos empregar, porque quando menos esperamos elas pregam-nos uma rasteira enorme.

Não, decididamente não acredito neste tipo de pessoa porque, das duas uma, ou mente descaradamente ou engana-se a si própria. E agora que penso bem, ainda é capaz de haver uma terceira opção...

Não acredito em pessoas que não vêem que a vida é feita de curvas, muitas delas traiçoeiras, que só existem para nos fazer derrapar.

Não, não acredito em pessoas que não acreditam que mudamos constantemente e que essa é umas das grandes capacidades do ser humano.

 

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05
Set22

Uma espécie de Carta Aberta ao Ministro da Educação e a Todos os Sindicatos de Professores

C.S.

Tenho 35 anos, quase 36 e sou professora desde 2008. Escrevo esta carta aberta movida pelo cansaço. Sim, estou cansada depois de um mês de férias. Estou cansada, tal como tantos dos meus colegas espalhados pelas escolas do país. Estou cansada de um governo que não respeita minimamente os professores. E estou cansada dos sindicatos também. É esta a dura verdade. Porque neste momento sentimo-nos sós e sentimos que ninguém nos representa. Somos tantos e parece que ninguém compreende a nossa situação. Não é triste? Sentir solidão numa das profissões que lida com mais gente. Triste paradoxo. 

Não é triste ter que iniciar mais um ano letivo com um sentimento de derrota? Não é triste querer fazer algo, o que for, mas constatar que todos nos queixamos mas ninguém se levanta. Porque achamos que não servirá de nada, dizemos. Repetimos. Enquanto tomamos mais um café amargo e engolimos as mágoas e o orgulho.  

Sabem como cheguei aqui? Como cheguei ao ponto de vos escrever estas linhas? Vou-vos contar. Porque todos os anos, em todas as escolas por onde já andei, sei de mais um professor que sucumbiu à depressão. Coitado, dizemos. Enquanto vamos pensando quando chegará a nossa vez. 

Cheguei aqui porque os concursos de professores são esgotantes e injustos. Tremendamente injustos. Com mudanças das regras todos os anos, não havendo um mínimo de respeito pelas vidas das pessoas. Com ultrapassagens que geram discórdia. (Supostamente temos concursos de 4 em 4 anos, mas as leis mudam anualmente. Que lógica é esta?). 

Cheguei aqui porque atravessámos uma pandemia, custeando do nosso bolso as aulas em casa, fazendo tudo o que estava ao nosso alcance para que os nossos alunos passassem por ela o menos lesados possível. 

Cheguei aqui porque cada vez me pedem mais. Mais papéis. Mais reuniões. Mais formações. Mais formas de diversificar as aulas. Mais, mais, mais... Sem querer saber como. Como é que o conseguimos fazer? Já pensaram? Claro que é em detrimento da nossa vida pessoal e dos nossos interesses. Anulamo-nos para fazer acontecer. Anulamo-nos para que as escolas não parem. 

Cheguei aqui porque a inflação continua a sua escalada e os salários não aumentam. Mas temos de continuar a atestar o depósito para ir trabalhar longe de casa com um sorriso no rosto. 

Cheguei aqui porque gostar dos alunos não chega. Gostar de ensinar não chega. Ser bom comunicador não chega. E sabem porque não chega? Porque a despensa de casa não se enche com sorrisos e abraços. 

E já chega da conversa de que os professores são missionários. Não são. Os professores são pessoas normais, com problemas reais, salários que não pagam o seu trabalho e estão tremendamente cansados e descontentes. E só não sabem como demonstrá-lo. 

 

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(Imagem aqui)

21
Mar21

As palavras no Dia Mundial da Poesia

C.S.

Que jamais se desvalorizem as palavras. 

Porque elas podem ser uma arma. 

Arranham.

Doem.

Queimam.

Matam?

Mas também podem ser tão doces como uma panqueca num domingo de manhã.

Podem abraçar-nos. 

Envolver-nos para sempre.

Transformar-nos. 

Que jamais se desvalorizem as palavras que compõem um poema. 

Elas podem-nos salvar.

As palavras podem-nos salvar.

Se forem certas.

E verdadeiras.

Se ficarem para sempre.

E forem repetidas.

As palavras podem-nos salvar. 

Agarremo-nos a elas.

Salvemos nós as palavras. 

 

C.S.

(Imagem aqui)

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