C.S.
No comboio, todos os dias à mesma hora, entram e saem centenas de pessoas. Todas apressadas, todas fechadas sobre si mesmas, todas de cara sombria.
Na estação de comboios todos os dias se cruzam centenas de vidas, cada uma com a sua história para contar e todas elas com tão pouca vontade para qualquer tipo conversas. Pesa-lhes a solidão dos dias, o arrastar até ao local de trabalho, que não é o que se adora, mas sim aquele que se pode ter e que paga as contas do mês.
No comboio, todos os dias cruzam-se, sem repararem um no outro, o Rodrigo e a Rita. Ele vai para o escritório, onde trabalha com afinco, não deixando de contar as horas que lhe faltam para sair. Lá fora o mar espera-o, o surf é a sua paixão. Ela vai para a florista, onde trabalha meio dia e ganha o suficiente para não depender totalmente dos pais enquanto acaba o curso, sonha com o dia em que se vai demitir das flores. A biologia marinha é a sua vocação, sempre teve um fascínio inexplicável pelo mar.
Rodrigo e Rita, une-os o mesmo amor pelo mar e pelo rock dos anos 90. Ele vive sozinho num T2 que comprou há dois anos e ela num quarto minúsculo de uma casa antiga que divide com mais duas colegas. Ambos têm muitos sonhos que não partilham com ninguém.
Na verdade irão partilhá-los um com o outro e não mais pararão de o fazer. Basta que um deles tenha coragem para dizer o que calam à semanas, sempre que se cruzam no comboio, às 08:10h.
(Imagem aqui)