C.S.
A vila é igual a tantas outras. Não tem nada de singular, isto se não contarmos com o marreco, que todos conhecem, mas que ninguém sabe o seu verdadeiro nome.
A vila é devota, isto se não contarmos com os pecados que todos por lá cometem, mas dos quais ninguém gosta de falar.
É prendada, todos os anos, com fenómenos naturais que estragam as colheitas e que requerem subsídios exteriores, isto se não contarmos com as vinhas, que de ano para ano estão mais rentáveis.
Na vila há muita gente desempregada, isto se não contarmos com os que passam os dias no café, a beber minis, matando a sede, preferindo o desemprego ao cabo da enxada.
Todos são felizes na vila, isto se não contarmos com os vários funerais a que todos vão assistir, com pompa e circunstância.
Não há festas melhores que as da vila, isto se não contarmos com todas as outras que se fazem nos arredores.
A vida na vila é mais calma, isto se não contarmos com as discussões geradas pelo futebol.
Na vila o ar que se respira é mais puro, isto se não contarmos com o aterro sanitário que se encontra a 12 km de distância e cujo cheiro, às vezes, o vento teima em trazer.
Aqui na vila a vizinhança é mais unida, isto se não contarmos com a cobiça da mulher alheia.
Cá na vila os animais são mais felizes, isto se não contarmos com as matanças e as touradas que se fazem em honra de nossa Senhora.
Na vila as mulheres preocupam-se muito com a família, isto se esquecermos as chineladas que os miúdos levam quando se atrasam para o jantar.
Aqui na vila as crianças brincam mais na rua, isto se esquecermos as horas em que veem televisão ou jogam no telemóvel.
A vila tem os melhores políticos, isto se apenas pensarmos nas excursões que a junta de freguesia organiza.
Na vila todos são mais saudáveis, isto justifica-se porque o médico só aparece uma vez por mês e não há tempo para se ficar doente.
A verdade é que na vila vive-se melhor que em qualquer outra parte, isto se não pensarmos que já todos desejaram sair, mas que lhes faltou a coragem.
´(Imagem aqui)