O problema é a interpretação do texto.
Sou professora de uma língua estrangeira. Ler e interpretar textos faz parte dos meus dias e do quotidiano dos meus alunos. Nos últimos anos tenho dito e repetido, em diferentes ocasiões, que os alunos interpretam cada vez pior.
Na língua portuguesa passa-se exatamente a mesma coisa, não se deixem enganar, não acreditem que é um problema que se verifica só ao nível das línguas estrangeiras.
E de há um tempo para cá estou cada vez mais convencida que este problema não é único e exclusivo das salas de aula. Não é um problemas dos alunos portugueses, mas sim um problema da sociedade.
Vejamos casos concretos...
No dia 13 de julho A Pipoca Mais Doce escreve um texto, bem pequenino e inocente, mas com algum sentido de humor, sobre como é ir à praia com miúdos pequenos. Na verdade o texto era uma introdução bem conseguida, na minha modesta opinião, à apresentação/sugestão de algumas toalhas de praia e meia dúzia de fatos de banho.
E o que aconteceu? Caiu o Carmo e a Trindade, que é como quem diz que choveram comentários a dizer que ela basicamente deve odiar crianças e ainda houve quem questionasse o porquê de ela ter filhos. A sério! Vão lá ver se quiserem confirmar...
Passados uns dias, mais concretamente no dia 17, foi a vez da Cocó na Fralda. Esta decidiu escrever um texto pessoal, intimista e verdadeiro, que é, no fim de contas, uma espécie de declaração de amor e balanço do seu casamento feliz que já dura há 20 anos. Esta é, pelo menos, a interpretação que eu faço das suas palavras.
Mas pode um texto deste carácter dar azo a alguma polémica? Pode, claro que pode! Ou não vivêssemos nós numa sociedade onde as pessoas adoram escudar-se no anonimato da internet e dissertar sobre a vida dos outros. Houve gente a dar a entender que as palavras da blogger perdem sentindo porque tem dinheiro. Ou seja, que se não fosse a sua conta bancária ela não conseguiria ser feliz. (Isto para vos dar uma ideia de forma resumida...)
(Imagem aqui)
Agora digam-me... Isto é ou não é um problema de interpretação? É que andam todos a ver coisas que não estão lá.
Por uma pessoa brincar com o facto dos miúdos serem chatos e não pararem um minuto sossegados na praia já é um monstro que odeia crianças?
E alguém que tem uma vida desafogada, (porque trabalhou para isso!), não pode dizer que seria feliz com o seu marido independentemente das circunstâncias? Uma pessoa que até admite, ao longo do seu texto, ter tido sorte na vida?!
Desculpem-me, mas eu acho que ou andamos todos a interpretar muito mal, ou andamos todos muito ressabiados com as nossas vidas e, por isso, descontamos nos outros.
Seja qual for a verdade, acho que é triste.