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há mar em mim

26
Set22

Não acredito

C.S.

Não acredito em pessoas que dizem frases como "Eu sempre fui assim e nunca vou mudar.". E sabem porque não acredito? Porque esse tipo de pessoa não existe.

"Nunca" e "sempre" são capazes de ser das palavras mais traiçoeiras que podemos empregar, porque quando menos esperamos elas pregam-nos uma rasteira enorme.

Não, decididamente não acredito neste tipo de pessoa porque, das duas uma, ou mente descaradamente ou engana-se a si própria. E agora que penso bem, ainda é capaz de haver uma terceira opção...

Não acredito em pessoas que não vêem que a vida é feita de curvas, muitas delas traiçoeiras, que só existem para nos fazer derrapar.

Não, não acredito em pessoas que não acreditam que mudamos constantemente e que essa é umas das grandes capacidades do ser humano.

 

20210925_174826.jpg

 

05
Set22

Uma espécie de Carta Aberta ao Ministro da Educação e a Todos os Sindicatos de Professores

C.S.

Tenho 35 anos, quase 36 e sou professora desde 2008. Escrevo esta carta aberta movida pelo cansaço. Sim, estou cansada depois de um mês de férias. Estou cansada, tal como tantos dos meus colegas espalhados pelas escolas do país. Estou cansada de um governo que não respeita minimamente os professores. E estou cansada dos sindicatos também. É esta a dura verdade. Porque neste momento sentimo-nos sós e sentimos que ninguém nos representa. Somos tantos e parece que ninguém compreende a nossa situação. Não é triste? Sentir solidão numa das profissões que lida com mais gente. Triste paradoxo. 

Não é triste ter que iniciar mais um ano letivo com um sentimento de derrota? Não é triste querer fazer algo, o que for, mas constatar que todos nos queixamos mas ninguém se levanta. Porque achamos que não servirá de nada, dizemos. Repetimos. Enquanto tomamos mais um café amargo e engolimos as mágoas e o orgulho.  

Sabem como cheguei aqui? Como cheguei ao ponto de vos escrever estas linhas? Vou-vos contar. Porque todos os anos, em todas as escolas por onde já andei, sei de mais um professor que sucumbiu à depressão. Coitado, dizemos. Enquanto vamos pensando quando chegará a nossa vez. 

Cheguei aqui porque os concursos de professores são esgotantes e injustos. Tremendamente injustos. Com mudanças das regras todos os anos, não havendo um mínimo de respeito pelas vidas das pessoas. Com ultrapassagens que geram discórdia. (Supostamente temos concursos de 4 em 4 anos, mas as leis mudam anualmente. Que lógica é esta?). 

Cheguei aqui porque atravessámos uma pandemia, custeando do nosso bolso as aulas em casa, fazendo tudo o que estava ao nosso alcance para que os nossos alunos passassem por ela o menos lesados possível. 

Cheguei aqui porque cada vez me pedem mais. Mais papéis. Mais reuniões. Mais formações. Mais formas de diversificar as aulas. Mais, mais, mais... Sem querer saber como. Como é que o conseguimos fazer? Já pensaram? Claro que é em detrimento da nossa vida pessoal e dos nossos interesses. Anulamo-nos para fazer acontecer. Anulamo-nos para que as escolas não parem. 

Cheguei aqui porque a inflação continua a sua escalada e os salários não aumentam. Mas temos de continuar a atestar o depósito para ir trabalhar longe de casa com um sorriso no rosto. 

Cheguei aqui porque gostar dos alunos não chega. Gostar de ensinar não chega. Ser bom comunicador não chega. E sabem porque não chega? Porque a despensa de casa não se enche com sorrisos e abraços. 

E já chega da conversa de que os professores são missionários. Não são. Os professores são pessoas normais, com problemas reais, salários que não pagam o seu trabalho e estão tremendamente cansados e descontentes. E só não sabem como demonstrá-lo. 

 

escola-2.png

(Imagem aqui)

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