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há mar em mim

19
Nov19

Erro

C.S.

(Imagem aqui)

 

Com que frequência admito o erro?

Como lido com ele? 

Como reajo?

E como reagem vocês? Como? Já se questionaram?

É muito bonita aquela frase que todos sabemos papaguear: "Errar é humano". Atiramo-la como quem pede desculpas pouco sentidas, porque só queremos acelerar a fundo e esquecer que somos falíveis. 

O erro, quando temos coragem do enfrentar, pode transformar-nos. O problema é a incerteza dessa transformação. Queremos sempre que tudo o que nos acontece seja para melhor. Certo? 

Ninguém troca para umas botas piores, um carro pior, uma casa pior, um emprego pior... Até nas nossas relações amorosas achamos sempre que estamos a escolher melhor. "A próxima é que vai ser..." Convencemo-nos. Porque a anterior foi um erro. Um erro! 

Foi mesmo? 

Se olharmos o erro de frente, sem medo, o que é que ele nos vai mostrar? A resposta é simples, mas dolorosa. Vai mostrar-nos exatamente o que passamos a vida a tentar esconder: que somos falíveis. Somos falíveis! Todos nós, sem exceção. 

Eu erro

Tu erras

Ele erra 

Nós erramos

Vós errais

Elas erram

Todos os dias, sem exceção. O erro faz parte da nossa existência, mas temos vergonha do admitir, por isso costumamos camuflá-lo, reprimi-lo ou ignorá-lo. 

Ah... Se nós ousássemos. Se fossemos movidos a coragem...

Já pensaram onde poderiam chegar? Quem poderiam ser? Que fantasmas poderiam enfrentar? 

Não é o erro que nos paralisa, é o nosso comportamento perante a sua presença. Por isso, decidi olhar para o erro. Analisá-lo. Descobrir a sua composição. Tal como Gedeão analisou a Lágrima

Querem saber a que conclusão cheguei? 

Não sei se querem... Mas não há volta a dar. Vieram até cá. Já sabiam onde isto vos poderia levar... Um erro?

Quem saberá?!

As conclusões não foram fáceis. Tive de ir ao fundo de mim. Regressar. Observar. Esperar. 

Quase que hibernava. Quase que desistia... 

Mas depois compreendi

38% de medo.

29% de cansaço.

16% de distração.

11% de decisão.

5% de impulso.

1% de intenção.

Mas 100% humano. 

É nosso. Não há volta a dar. 

É nosso. E é tempo do enfrentar. 

Chega de consentir que ele nos paralise.

Chega de permitir que nos envergonhe.

Chega de deixar que nos diminua. 

Chega!

O erro é meu e assumo-o. Vou encará-lo. Expô-lo e excomungá-lo. Ultrapassá-lo. 

E depois? Depois...

Respiro fundo. 

Sorrio.

E vou...

Que outros erros hão de vir. 

Mas eu já não sou prisioneira deles. 

Já não me escondo. 

O erro. Que vontade de rir. 

O erro?

Afinal pode mesmo existir. 

 

(Texto original que enviei a uma grande amiga minha, que é atriz, e que depois de adaptá-lo, deu origem à peça Erro, Berro, Barro, que esteve em cena no passado mês de maio na S.M.U.P., Cascais.) 



12
Fev19

Tudo o que a vida faz ou tudo o que fazemos à vida?

C.S.

(Imagem aqui)

 

Qual é a vossa opinião? As nossas ações têm influência no que pode aparecer no nosso caminho? 

Eu tendo a acreditar que sim. Ainda que o ser humano seja condicionado por uma série de fatores externos a si, ele tem a capacidade de mudar o rumo. 

Por isso aprendemos a nadar, a construir estradas, a melhorar cada vez mais os meios de transporte. O ser humano é um insatisfeito. E isso não é mau. A inquietação dá-nos a capacidade de sermos melhores. De procurar mais.

Eu ando inquieta. Ando a traçar um plano para ser um pouco mais, ou pelo menos para tentar sê-lo. Porque as nossas raízes são invisíveis, para que não nos prendam. 

No que toca a viagens, eu acho sempre que ir é melhor que ficar. Porque não alargar o conceito à nossa vida e não apenas à hora de partir para férias?

31
Jan19

O Artur

C.S.

- Hey! Tu aí... Sim, tu. Tu que olhas para o monitor. Não adianta olhares para o lado ou tentares disfarçar. É mesmo contigo que eu quero falar. 

 

O meu nome é Artur. Nunca saberás se este é o meu verdadeiro nome, mas isso agora não interessa nada. O que interessa é que continues a ler e acredites no que te vou dizer. 

 

Eu já fui uma pessoa como tu. Já tive sonhos e já alimentei esperanças. Votava nas eleições que achava serem importantes. Casei-me, mas não tive filhos. Fui deixado ao fim do terceiro ano de casamento. Trocado por outro. Culpa minha, disse ela, que não a soube estimar. A puta. Mas amava-a. Apenas lhe bati uma vez. 

 

Eu já fui outra pessoa. Já tive uma vida. Nem sempre me escondi atrás do ecrã de um computador. Fui forçado a fazê-lo, sim, forçado.

 

"Por quem?" - perguntas. Pelos mesmos que me raptaram o cão faz amanhã cinco meses. Pelos mesmos que me obrigaram a ficar embriagado na festa da firma e a dizer aquelas alarvidades todas ao chefe. Pelos mesmo que ameaçaram matar a minha mãe se eu continuasse a ligar para a GNR a tentar pedir ajuda. 

 

Esta é agora a minha realidade. Já fui uma pessoa, mas agora já não sou. Pelo menos já não sou eu. Estou confinado a quatro paredes e tudo o que eles me disseram foi que não posso sair daqui. Não posso ver ninguém. Não me deixam fumar. Nem beber. E não, não tenho smartphone. Tiraram-mo, como deves calcular... Pensam que sou o fantoche deles. 

 

Não sei o que querem de mim, mas sei que não quero colaborar mais com eles. Não deixarei que me obriguem a fazer mais coisas contra a minha vontade. Estrangular a vizinha durante a noite foi a gota de água. Nem sequer tinha nada contra ela. A ter alguma coisa a apontar-lhe seria o facto de ela deixar sempre o carro à minha porta e não à dela. Agora nunca mais o vai tirar daqui e eu pergunto-me quem o fará. Mas não importa. Amanhã também já não vou cá estar. Mas vocês vão. E eu preciso da vossa ajuda. 

 

Estão preparados?

 

A vossa missão é contar a verdade. Tão simples quanto isso. Quando ouvirem falar de mim contem o que eu vos transmiti. Digam apenas a verdade. 

(Imagem aqui)

 

NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA - FOI ENCONTRADO MORTO O HOMEM DE 43 ANOS QUE VIOLOU E MATOU A VIZINHA EM ABRAVESES, VISEU. TRATAVA-SE DE UM DOENTE DA ALA PSIQUIÁTRICA DO CENTRO HOSPITALAR CONDE DE FERREIRA, NO PORTO, QUE ESTAVA DESAPARECIDO DESDE O PASSADO DOMINGO. AS AUTORIDADES JÁ ESTÃO A INVESTIGAR, MAS ACREDITA-SE QUE O HOMEM SE TERÁ SUICIDADO. 

30
Jan19

O que queres fazer?

C.S.

O que queres fazer?

 

É terrível esta pergunta.

Assustou-me no 9º ano, quando eu tinha 14 anos e tive de tomar uma decisão para o futuro. Na altura eu sabia duas coisas: que queria que o Benfica fosse sempre campeão e que as únicas aulas que me entusiasmavam verdadeiramente eram as de Português. Dessem-me textos para ler e temas para escrever e eu era uma adolescente feliz.

 

Fantasiava com o amor. Era romântica e nostálgica e sonhava com uma vida melhor. Os livros eram o meu aeroporto, numa altura em que eu ainda não fazia a mínima ideia do aspeto de um. Ninguém me ajudou na decisão, naquele ano de 2001. Porquê? Porque na minha família impera a baixa escolaridade, (os meus avós, maternos e paternos, foram toda a vida analfabetos, por exemplo.), e a minha mãe ouvia-me mas, compreendo hoje, não estava minimamente dentro do sistema de ensino e não tínhamos consciência lá em casa do peso da decisão que eu ia tomar. Sorte a minha, nunca poderia ter sido outra. As humanidades eram o que me apaixonava e os testes psicotécnicos evidenciaram isso mesmo.

 

Fiz o secundário com poucos percalços, mas um deles foi compreender tardiamente que as notas do secundário seriam o meu bilhete de acesso ao ensino superior. Por esta altura comecei a achar que queria uma vida de jornalista, (como não desejar ganhar a vida a escrever?!), ao mesmo tempo em que me rendia à fotografia, ainda que não tivesse qualquer equipamento, fascinava-me o facto de poder conservar para sempre um instante. 

 

Sonhava em viver perto do mar ou mudar-me para o Porto com a minha melhor amiga, onde dividiríamos casa e seriamos universitárias empenhadas.

 

Acontece que nada disto aconteceu. 

 

Por um infeliz acaso eu fiquei mais um ano na secundária e os meus amigos foram às suas vidas. A minha melhor amiga não foi para o Porto, nem para Lisboa, que era a sua segunda opção. Ficou em Évora. E eu? 

 

Eu senti-me meio abandonada durante uns tempos. Depois arregacei as mangas e fiz o que tinha a fazer. Trabalhei durante o verão. Fiz 18 anos e recebi o meu primeiro ordenado no mesmo dia. Entrei no 12º outra vez. Nunca tinha repetido um ano e foi estraníssimo. Saí do grupo de teatro porque já não era a mesma coisa, pois faltavam-me as minhas pessoas, mas melhorei algumas notas e concluí a que havia para concluir. Tirei a carta. E fui pensando no futuro. A professora de Português dizia-me para ler Cartas a Um Jovem Poeta, de Rilke, com o intuito de me inspirar, enquanto a professora de Psicologia me falava de um novo curso na Universidade do Algarve. Também me disse que a língua espanhola era a próxima língua a entrar em força nas escolas. 

 

E eu ponderava. Ponderei até ao último momento. Até não poder mais mesmo. E sem certezas de nada, sem exemplos próximos, tive medo de colocar os meus pais numa situação económica delicada e decidi-me pelo curso que me daria a oportunidade de ficar em casa - Línguas, Literaturas e Culturas - Estudos Portugueses e Espanhóis. 

 

Nunca sonhei ser professora, mas foi no que me tornei. A minha profissão já me deu muitos momentos felizes. E no entanto, não sei se é o que quero ser a vida toda. E este assunto é como uma dorzinha chata. Não mata, mas mói. 

 

Talvez seja só o cansaço a falar. Talvez estas palavras sejam motivadas pela quantidade insana de trabalho que tenho enfrentado ultimamente, (este ano tenho mais de 150 alunos!), mas a verdade é que estou cansada. A segunda verdade é que ainda existe em mim o sonho infantil de viver de e para as palavras. O que é uma grande idiotice, eu sei. E sim, sei como é difícil arranjar emprego hoje em dia e sei que não tenho experiência em mais nada que valha a pena para além do ensino. Eu sei tudo isso. E contudo... 

 

O que queres fazer?

 

Ainda é uma pergunta que me assusta. 

(Imagem aqui)

28
Jan19

Dou-te a mão e digo: "Vamos!"

C.S.

Olho pela janela.

O sol brilha lá fora para nos enganar. 

O vento que vem de norte sopra forte e gélido.

Tão frio. Encolhemo-nos perante o seu rigor.

"Quem de dera estar noutro lugar" - penso. 

Sonho com lugares distantes.

Elevo-me.

Levo o pensamento para sítios mais próximos.

Faço planos. Traço metas.

Hei de pôr tudo em prática. 

Aventurar-me no desconhecido.

Porque agitar é preciso.

Mexer com a vida para ver o que ela faz de nós.

Viver sem medo para chegar onde devemos.

Se hoje quero mais. Amanhã já não é tarde. 

Olho para ti. Observo-te.

Sorrio. Dou-te a mão e digo: "Vamos!". 

(Imagem aqui)

16
Jan19

Sabes lá tu o que é ser eu!

C.S.

E tu sabes lá!...

Sabes lá o que é andar sempre à pressa, 

ter a cabeça a prémio só por existir. 

Tu sabes lá!...

O que é chegar a casa já de noite,

não ter tempo para mais nada que não seja subsistir. 

E tu sabes lá!...

As horas que passo acordado,

a pensar, desesperado, numa forma de escapulir. 

Tu sabes lá!...

Não sabes o que farias se fosses eu. 

Não sabes minimamente o que me corroeu. 

Tu não sabes. 

Não sabes o que é entregar o coração diariamente.

Não sabes o que é viver doente.

Não sabes que te amo desesperadamente. 

Não sabes que o meu amor sempre te pertenceu.

Tu não sabes.

Simplesmente não sabes.

Sabes lá tu o que é ser eu!

(Imagem aqui)

12
Nov18

É o tempo que nos faz

C.S.

O tempo é, para mim, um dos grandes mistérios do universo. 

Não é palpável. Muitas vezes não o sentimos e, no entanto, se olharmos com atenção conseguimos vê-lo.

Este fim-de-semana que passou vi O Tempo.

Vi-O.

Vi-o claramente. 

Pude observar a forma como ele passa por nós. Impiedoso. Acutilante. 

Vi-o nas rugas da minha mãe. 

Estava nos cabelos brancos do meu pai.

Transformou a minha irmã. Já não é a menina de quem tenho de cuidar. É agora outra coisa. Quase adulta, acho. Feliz, espero. 

Estava em casa dos meus sogros. Quase disfarçado. Mergulhando tudo numa espécie de decadência. 

Mostrou-se evidente nos meus primos... Nos de 5, 11, 21 e 40 anos. 

E quando o vi na minha sobrinha quase lhe implorei que andasse devagarinho. Que a deixe ser menina, inocente e feliz sempre. 

Muitas vezes não sei o que o tempo fez comigo. 

Sei que me moldou. 

Porque não para. 

Não volta.

Não se arrepende. 

O tempo que nos trespassa e repassa.

E corre. A um ritmo perfeito e só seu, que ninguém consegue acompanhar. 

O tempo que se ri de nós. 

Ano, após ano, na sua eternidade. 

Ri. Brinca. Faz o que quer. 

Deixa-nos viver.

Mas de vez em quando exibe-se.

Olha-nos nos olhos, só para nos lembrar que anda por aqui. 

Lembra-nos que, ao contrário de nós, é imortal. 

Que nós não temos tempo a perder.

(Imagem aqui)

 

17
Out18

O Fernando

C.S.

Fernando ia sentado no comboio, absorto nos seus pensamentos, mas sobretudo nas suas angústias. Regressava a casa numa hora que não era de ponta, facto que não invalidava que o comboio fosse bastante composto. 

Se alguém perdesse um pouco do seu tempo, naquele final de tarde gélido, e reparasse na postura de Fernando, rapidamente repararia que ele era a figura de um ser humano derrotado. Vencido pela vida, era assim que Fernando se havia sentido nos últimos anos. Às vezes, quando o pessimismo não o consumia por completo, Fernando tentava dar algum sentido à sua existência, mas deixava-se vencer demasiado rápido. 

É verdade que a vida não havia facilitado as coisas para Fernando. Tinha uma cara comum e só a cor dos seus olhos constituía um traço distintivo, eram de um verde azeitona profundo. Havia herdado os olhos da mãe que o abandonou quando ele tinha três anos de vida e o mundo todo por descobrir. Esse acontecimento fez com que Fernando usasse fralda até muito mais tarde do que era suposto. 

Fernando ficou aos cuidados do pai, que sempre se esforçou para que nada lhe faltasse, mas que era escasso em demonstrar afeto. Até entrar para a escola passava os dias com a avó paterna, uma senhora que cheirava sempre a tabaco e que dividia a sua casa com cinco gatos. Garantia que a comida não faltava ao neto, mas todo o cuidado que tinha para com ele não passava disso mesmo. 

Na escola Fernando era um aluno mediano e tinha dificuldade em fazer amigos. Fazia muitas conversas na sua cabeça, mas era quase sempre incapaz de as concretizar. Os professores pareciam não reparar muito nele, pois não arranjava conflitos e não tinha notas que o colocassem nos extremos. Era quase esquecível. Amou pela primeira vez no 10º ano. Bruna. A única rapariga que um dia lhe disse que ele tinha os olhos bonitos. 

Após concluir o secundário, Fernando entrou no mundo do trabalho, exatamente no mesmo ano em que o seu pai adoecera e falecera. Perdeu a única pessoa que parecia preocupar-se com ele minimamente. Fernando ficou entregue a si próprio. 

Trabalhava com afinco, era cumpridor e pontual, nunca faltava. Na sua cabeça haviam questões que o assombravam uma e outra vez, uma e outra vez, uma e outra vez... "Para que sirvo? O que ando cá a fazer? Se morrer ninguém sentirá a minha falta.". 

Foi imbuído nestes pensamentos que Fernando decidiu que no dia em que fizesse 30 anos celebraria colocando fim à sua existência. 

Era hoje, 14 de novembro, Fernando ia para casa para celebrar como havia prometido a si próprio. 

O comboio parou. Ainda faltavam quatro paragens para o destino final. Fernando sentiu uma mão pousada no seu braço, piscou os olhos antes de virar a cabeça ao ouvir:

- Fernando? - questionou uma voz doce e confusa.

Fernando tinha a certeza que não era com ele que falavam. Nunca era, por isso encarou-a com os seus olhos verdes cheios de perplexidade e não conseguiu sequer soltar um som.

- Fernando? És tu! És mesmo tu. - a voz da rapariga parecia entusiasmada e Fernando sentia-se a ter uma experiência fora do corpo. 

- Sou eu, a Bruna. Lembraste de mim? Fomos colegas no liceu, no 10º ano, mas eu depois mudei de escola...

- Bruna? - interrompeu-a Fernando, quase em surdina. 

Lembrava-se. Claro que se lembrava. Como podia havê-la esquecido? Estava mais bonita que nunca. Sempre tivera um sorriso doce. 

- Sim, sou eu. Que surpresa encontrar-te aqui. Como estás? - questionou ela casualmente. 

Que poderia ele responder? Não podia admitir que ia a caminho de casa para colocar em prática o seu plano de suicídio. Em vez disso disse-lhe:

- Julguei que nunca mais te iria encontrar. 

- Foi pena eu ter mudado de escola. O meu pai arranjou um novo trabalho, tivemos de mudar de casa. Eu gostava tanto de ti... - admitiu ela enquanto sorria e um rubor cobria-lhe as faces.

Fernando estava em choque. Sentiu uma descarga no seu corpo. Nunca ninguém lhe havia dito que gostava dele. E não esperava que a pessoa que o fizesse fosse a rapariga mais bonita e simpática que pisava o planeta Terra.

Aos poucos o seu plano ia-se desvanecendo. Fernando sorria, parecia ter voltado à vida ainda antes de morrer. 

(Imagem aqui)

09
Out18

Sonhos matinais

C.S.

Sinto o frio da manhã. 

Sorrio. Tinha saudades dele. 

Lá fora já há barulhos sem fim...

...a vizinha que tira o carro da garagem para levar a miúda à escola.

...os passarinhos que cantam na inocência da sua existência.

...uma mota que acelera sabe-se lá para onde...

...o cão do prédio da frente que quase nunca ladra, mas que agora está a fazê-lo com fervor.

A vida a avançar. Todas as manhãs ao seu próprio ritmo.

A vida a pulsar. Todos os dias, sem exceção.

Espreguiço-me. 

Também está na hora de eu avançar. 

É hora de calçar os sapatos rasos e enfrentar a loucura que me espera assim que atravessar a porta. 

Faço-me à vida.

Com o que tenho. 

Com o que sonho ter.

Faço-me à vida.

Na esperança.

Sempre na esperança de alcançar o mundo, por inteiro. 

Conhecê-lo. Torná-lo meu. 

O mundo. Tão grande. Imenso. 

E, no entanto, tão ao alcance. 

Meu. 

Teu. 

Nosso.

O mundo todo. 

Nosso e para sempre. 

sun-rays-182170_960_720.jpg

(Imagem aqui)

01
Out18

À segunda

C.S.

O despertador toca. Uma, duas, três vezes...

Um pé no chão. Não está frio.

Ainda não faz frio.

Outubro aqui. E o outono longe.

Que dia é hoje?

É segunda? Acho que é segunda...

Porra!... 

É segunda! 

Os primeiros minutos do dia passam sempre demasiado rápido.

A rotina matinal em passo apressado. 

Hoje não se põe rímel. 

Hoje enfrenta-se o mundo com as pestanas em tamanho regular.

Na cozinha o pequeno-almoço come-se. Não se saboreia.

Os sabores são para os domingos.

À segunda engole-se. 

Os sapatos. A mala. A garrafa da água.

As chaves. De casa e do carro.

Vá lá que ainda não precisamos de casaco. 

Tranca-se a porta. 

Chama-se o elevador. 

A marmita! Falta a mala da marmita!

O elevador chega quando a porta de casa se abre outra vez. 

Agora sim...

Agora é que é...

E a segunda que não para!

E a segunda que nos foge!

Parece que todos saímos de casa minutos mais tarde.

Encontramo-nos todos na mesma rotunda. 

Maldita segunda!

Abre o pisca. 

A cidade já fica para trás. 

Voltamos logo. 

À segunda. 

Vamos lá...

À segunda.

Que a vida é já. 

 

calendario-2012.jpg

(Imagem aqui)

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