A Camila
Fechou a porta de casa. Da casa que ainda era sua, mas que em breve deixaria de ser. Sabia que aquela manhã cinzenta de janeiro seria a última vez que estaria ali.
Fechava a porta à casa e à vida que ela conteve. Encerrava naquele gesto não apenas uma moradia, mas também um casamento de quase sete anos. Sete anos. Tanta gente lhe havia dito que aquela era a barreira temporal que teria de ser superada... Não foi.
A casa fechava-se, mas Camila sentia que se abria para o mundo. Ou seria o mundo que se abria para ela? Teria tempo de descobrir...
O seu casamento havido sido feliz nos primeiros cinco anos. Eram esses cinco anos que guardaria na memória. Não na mais imediata, porque não queria pensar nele com frequência. Queria atirá-lo para o passado que se revisita amiúde e que nos faz sorrir.
Não guardaria o sexto ano. O não guardaria a dor que lhe causou. As lágrimas que verteu. As palavras que não lhe disse.
Deixaria no passado a discussão que os levou a partir parte da loiça. Ficariam para trás as noites em que ele disse estar a trabalhar até tarde, quando na verdade estava num hotel de segunda com a estagiária. Esqueceria as promessas vãs que ele lhe fez e que não foi capaz de cumprir.
Fechava a porta, mas carregava consigo o seu novo propósito. Rodou a chave pela última vez e virou-se, um raio de sol apareceu, como se iluminasse o seu novo caminho. E Camila passou a mão na barriga, que de dia para dia não parava de crescer. Era hora de partir, com o melhor que ele lhe podia ter deixado.
(Imagem aqui)