A Íris
Um dia a Íris sonhou em ter um mano ou uma mana. Garantiu aos pais que não se importaria com o sexo, que ajudaria a cuidar do bebé com o mesmo interesse e cuidado, independentemente deste ter uma pilinha ou um pipi. Chorou, implorou, chegou mesmo a fazer uma grande birra.
Os pais nunca deram um irmãozinho à Íris, foram-lhe dando brinquedos, grandes festas de aniversário, foram-na mimando como puderam e souberam, mas à Íris faltou sempre algo maior.
Cresceu e deixou de falar no assunto. Mimada e irreverente, a Íris explicou a si mesma que os pais não quiseram mais filhos por ela ser tudo quanto lhes bastasse. Mas quis a ironia da vida que a Íris ficasse sem os pais aos vinte anos, resultado de um trágico acidente. Duro golpe. Demasiado duro para qualquer idade, mas mais ainda para quem está a fomentar a sua personalidade, para quem ainda acha que pode tudo e que tem a vida toda pela frente, ou não fossem os vinte anos a idade da imortalidade.
A Íris viu-se sozinha no mundo e, estranhamente, sentiu saudades do irmão que nunca conheceu, da irmã que nunca abraçou, do irmão com quem nunca teve hipótese de brigar ou da irmã com quem nunca teve de lutar pelo vestido preferido.
Conheceu o peso da palavra solidão demasiado cedo. Apesar dos avós e dos tios, que tanto a apoiaram e mimaram, ela nunca mais se voltou a sentir completa. Interrogava-se várias vezes como seria a vida se os pais a tivessem privado de bens materiais, mas lhe tivessem dado alguém com quem partilhar as dores e os amores, as conquistas e os erros.
Aos 33 anos a Íris engravidou e recebeu a melhor notícia que alguma vez lhe tinha sido comunicada: estava grávida...de gémeos.
(Imagem aqui)