A magia do Pai Natal (memórias da minha infância)
Era dezembro. Início talvez. E eu fui com a minha mãe espreitar uma pequena loja de brinquedos que havia no meu bairro.
Nunca compreendi como é que aquela loja surgiu ali. Quem foi o iluminado que achou que uma loja de brinquedos poderia ter futuro num bairro como o meu (um dia falo-vos do meu bairro). Não sei quanto tempo de vida teve essa loja, mas sei que foi um tempo feliz para mim. Podia entrar e ver, se a minha mãe me levasse. E ver já era sonhar.
Era dezembro e fomos lá. Eu e a minha mãe. Teria uns 6 anos, talvez. Como qualquer criança, vi tudo e gostei de tudo, mas gostei mais ainda de algo que se assemelhava a um computador, daqueles para crianças. O visor tinha uma ranhura onde se colocavam os imensos cartões de jogos que trazia. Era didático e diferente de tudo o que eu tinha visto até então. Era mesmo o que eu queria para o Natal. Mostrei à minha mãe. Ela olhou e disse-me que era muito caro. Demasiado caro. E os meus sonhos caíram por terra.
Sempre soubemos, eu e a minha irmã, que contra o "muito caro" não havia nada a fazer. Fomos acostumadas a saber, desde tenra idade, que a nossa família vivia com as economia contadas. E fomos acostumadas a não tentar argumentar contra o "muito caro". Acho que os meus pais fizeram um ótimo trabalho nesta área.
O tempo passou. Chegou o Natal. A noite de Natal foi boa, em família, como deve ser. Jantámos, rimos, trocámos as prendas e, claro, o computadorzinho não chegou.
Fui para a cama feliz, como ia sempre no Natal. Mas antes fui deixar o meu sapatinho na cozinha, porque o Pai Natal passava sempre na minha casa.
No dia 25 de dezembro eu acordava sempre muito cedo, por dois motivos: ver se o Pai Natal tinha passado e ver os desenhos animados que davam na tv. No Natal davam desenhos animados alusivos ao Natal e isso era uma alegria tremenda para mim.
Era 25 de dezembro de um ano do início dos anos 90 e eu jamais esquecerei. Na cozinha, em cima do meu minúsculo sapato, estava uma caixa grande. Linda. Bem embrulhada, com um grande laço.
Não sei bem como, mas lá a consegui tirar sozinha, os meus pais ainda dormiam. O meu coração batia descompassadamente, porque o Pai Natal nunca me tinha trazido algo tão grande.
Abri sem cuidado, rasguei o papel o mais rápido que pude e ali estava ele. Diante dos meus olhos. O computador da loja de brinquedos! Acho que me faltou o ar... Fui a correr até ao quarto dos meus pais, acordei-os dizendo:
- Venham ver. Não vão acreditar!!! O Pai Natal deu-me o computador que eu queria!!! Aquele muito caro!!! Mas como é que ele sabia?! Como?! Como é que ele sabia se eu o vi na loja do bairro?!
(Imagem aqui)
E foi assim que eu ia tendo um ataque cardíaco numa manhã fria de Natal. Acho que foi a prenda que mais emoção me causou. E foi incrível!