A Natália
A Natália herdou o nome da avó e os olhos verdes do pai, mas a teimosia que lhe é característica é só sua, ninguém lha passou. A mãe é a mulher mais pacífica que possam imaginar e é muito rápida a concordar com tudo para terminar qualquer atrito latente.
A Natália não é filha única, tem um irmãozinho mais novo, muito mais novo, para o qual ela raramente tem tempo ou paciência. Em casa fecha-se no seu quarto, de onde só sai para jantar, mas na escola gosta de passear-se, mostrar-se, ver e ser vista.
Tem dezasseis anos e pensa que já sabe tudo. Perdeu a virgindade aos catorze, mais tarde que a maioria das suas amigas, mas essa tarde de março não foi nada como aquilo que havia imaginado, muito menos aquilo que o rapazinho que a acompanhou na aventura lhe tinha prometido.
Ela tem sede de viver tudo intensamente, mas não tem objetivos para o futuro a médio prazo. Preocupa-se unicamente com o dia de amanhã e, sobretudo, com a roupa que envergará para mais um dia de desfile.
Não imagina que a mãe lhe admira as certezas que aparenta ou que o pai teme o dia em que ela tenha de sair de casa. Na verdade a Natália preocupa-se muito pouco com eles, não que não os ame, mas ela sabe que quando voltar a casa eles estão lá, estarão sempre lá para ela e isso basta-lhe.
Do alto dos seus dezasseis anos a Natália acha que não tem de agradar a mais ninguém para além do seu exclusivo grupo de amigos. É uma aluna mediana e isso vai fazendo com que não a chateiem, nem em casa, nem na escola. A prof. de Português já lhe tirou a pinta, sabe que ela poderia ser muito mais do que quer, mas a Natália contenta-se com batons e beijos furtivos e, às vezes, um ou outro cigarrinho atrás do pavilhão, onde gosta de se insinuar ao rapaz que descarrega sumos para o supermercado que fica em frente à sua escola.
A Natália que pensa em tornar-se famosa e rica através de um qualquer programa de tv não sabe a volta que o futuro lhe reserva e, quem sabe, talvez se ela tivesse a possibilidade de escolher faria tudo da mesma forma.
(Imagem aqui)