Aquela casa
Aquela casa que está fechada há demasiado tempo já foi feliz. Viu crescer gerações, sabia-lhes os nomes, os gostos e desgostos. Presenciou lindas histórias de amor, algumas mais duradouras que outras, mas todas intensas e arrebatadoras.
Aquela casa fechada e sombria já esteve toda iluminada, já viveu muitos Natais, já aconchegou muita gente. Passou por ventos fortes, sol intenso, tempestades que faziam os seus vidros tremer e, até, o sismo de 5.2 de há muitos anos atrás, que lhe deixou para sempre aquela racha que nunca foi concertada. Sempre adiada.
Aquela casa abandonada já foi palco de grandes conquistas, de sonhos realizados e, também, de alguns sustos. Noites mal dormidas, algumas dores e dissabores.
A casa que está fechada não merecia tal sorte. Abandonada sem dó, nem piedade, entregue ao bolor e à humidade, apodrece de dia para dia sem que ninguém nela repare.
Já foi assaltada e esventrada, levaram-lhe o recheio, mas não a alma. O quintal, que tinha tantas e tão boas árvores de fruto, está agora transformado numa pequena mata, só os ratos, gafanhotos, pássaros e osgas se passeiam por lá.
Aquela casa, que ninguém parece ver, vai ruir qualquer dia e com ela as memórias de quem a habitou.
(Tirei esta foto um dia destes por aí...)