Caminhos que se cruzam
Fui passar o fim de semana ao Alentejo, o marido fez anos, esteve de folga e fomos festejar em família. No caminho entre o Algarve e o Alentejo necessitámos de abastecer, decidimos que o faríamos em Ourique, por acaso, num sítio onde não temos o hábito de parar.
Chagados à dita bomba de gasolina deparámo-nos logo com um rapaz, sozinho, roupa com sinais de bastante uso, alto, loiro, de olhos claros e sorriso aberto, que segurava um bocado de cartão onde tinha escrito Beja e Évora. Eu e o A. entreolhámo-nos e não dissemos nada.
O A. abasteceu e quando ia pagar perguntei-lhe: "damos-lhe boleia?". Resposta: "estava a pensar o mesmo". Mas nunca o tínhamos feito, nem um, nem outro. Quer dizer, lembro-me de ser miúda e o meu pai dar boleia algumas vezes, justificando que também já ele havida precisado e que sempre o haviam ajudado, mas eu e o A. ainda nunca tínhamos dado boleia a um desconhecido, claramente estrangeiro e, verdade seja dita, nos dias que correm ficamos sempre de pé atrás.
Mas lá nos decidimos a levar o rapaz, que ficou extremamente contente por o retirarmos do sol bastante quente do Alentejo e nos agradeceu várias vezes. Era alemão, tinha 23 anos e andava há uma semana a viajar pela Europa à boleia. Confessou-nos que na Europa se sente bastante seguro a fazê-lo e que no próximo ano ambiciona chegar à Nova Zelândia da mesma forma. É estudante de geografia e o mundo apaixona-o. Eu, pessoalmente, identifiquei-me muito com o seu entusiasmo por o desconhecido e admirei-lhe imenso o espírito de aventura. Disse-me que já esteve na Tailândia e na Malásia, entre outros países, destinos que fazem parte da minha lista de sonhos por realizar.
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Foi uma viagem até Évora que passou rapidamente, eu e o A. a sonhar com destinos exóticos e o nosso novo amigo a extasiar-se com a beleza das paisagens alentejanas, tão bonitas e floridas nesta altura do ano. Para ele o Alentejo apresentou-se-lhe como um meio rural ainda em bruto e deixou-se maravilhar pelas ovelhas, vacas e cavalos que haviam pelos campos e que a ele lhes pareciam gozar de liberdade total. Confessou-nos ainda que pensa que o Alentejo tem semelhanças com terras africanas e disse-nos que quando for mais velho quer comprar um pedaço de terra em Portugal, mais que não seja para ter uma desculpa para voltar em todas as Primaveras.
(Imagem aqui)
Fiquei muito feliz por o meu Alentejo lhe agradar assim tanto, reconheço-lhe a beleza, mas é sempre bom ver o entusiasmo que pode causar em alguém que não o conhece desde sempre.
Espero que o nosso novo amigo mantenha o espírito aventureiro, o bom gosto para filmes e música e que guarde boas memórias de Portugal.
Nós vamos sonhando com as viagens que faremos, as pessoas com que nos iremos cruzar e as histórias que ficarão para contar, que para mim estes três aspetos são dos mais importantes que a vida me pode proporcionar.