Cenas tristes do quotidiano
Todos os dias, para poder ir trabalhar, passo na mesma estrada. É considerada uma das piores e mais problemáticas do país (iupi!!!) e eu não tenho alternativa. Ou melhor, tenho, mas custa os olhos da cara. E eu prezo os meus olhos.
E todos os dias são mais de 100km para ir trabalhar. Ao preço a que estão os combustíveis todos compreenderão a minha dor. Mas enfim. Bola para a frente... Porque para a frente é que é o caminho e eu nunca posso chegar atrasada, não me perdoariam.
Nesta estrada movimentada e caótica existe um troço que costuma estar povoado, não só de carros, mas também de senhoras, entre três a quatro em menos de 1km.
Eu sou super distraída no que toca a alguns assuntos e só passada uma dúzia de vezes de fazer o bendito percurso é que comecei a ver que por ali haviam sempre senhoras. Achei, nos primeiros dias, que estariam à espera de alguém e depois achei que estavam a pedir boleia e depois fez-se luz, elas até têm cadeiras para esperarem sentadas e estão sempre de mini saias ou de mini vestidos. Mesmo quando o termómetro do meu carro marca -1ºC.
Já perceberam? Já perceberam o que fazem estas senhoras para ganhar a vida? Caramba, vocês são mesmo mais atentos que eu.
Mas agora, chegados a este ponto, estão vocês a pensar: "C.S., demoraste tanto tempo a perceber?". Sim, demorei, sou um bocado despistada, o que é que querem?!
E agora pensam: "Mas porque está ela a divagar neste assunto?!". Calma, explico já.
Porque num destes dias, lá ia eu no meu difícil percurso, quando reparei que por lá se encontrava um carro (familiar) "a fazer negócio" e tinha um daqueles autocolantes que dizem: "Bebé a bordo". E eu sustive a respiração. Abanei a cabeça para não pensar no assunto. Mas não consegui não pensar no bebé que normalmente anda naquele carro e que é agarrado e beijado por aquele senhor que estava interessado numa senhora que ganha a vida à beira da estrada a prostituir-se.
Não sei o que vocês acham, mas eu acho triste. Acho que todos estes protagonistas da vida real tem uma história triste, cheia de um nevoeiro denso, daqueles que demora dias e dias e dias a desaparecer.