Inquietações
Houve um tempo em que eu saltaria de paraquedas sem pensar duas vezes. Consigo identificar bem esse tempo porque sei exatamente o momento em que terminou.
Gosto de pensar que hoje ainda me atreveria a saltar. Mas pensaria muito mais sobre o assunto. Sentir-me-ia muito mais atemorizada.
Diz-se que a idade molda-nos e traz-nos medos. A idade. E as circunstâncias? Se eu não tivesse chocado frontalmente com uma árvore, aos 24 anos, talvez eu ainda fosse uma pessoa dessas que se atiram de cabeça sem pensar duas vezes. Talvez fosse mais livre. Livre de medos, pelo menos.
Às vezes dou por mim a pensar que quero ser aventureira. Que teria coragem de ir sem saber onde. E teria. Sei que teria. Desde que fosse acompanhada.
Outras vezes nasce em mim a vontade de fazer uma viagem sozinha. Talvez para me descobrir. Talvez para me testar. Talvez para provar que até consigo ser destemida. Mas no meu intimo sei que não me vejo à deriva sozinha. E isto aflige-me. Porque me sinto condicionada.
Esta inquietação antitética faz parte do que sou. Mas o que seria se não a tivesse? Como seria a minha vida se estas dúvidas não residissem em mim?
Creio que não me resta mais nada a não ser continuar à procura de respostas para as quais nem sei se tenho as perguntas certas.
Este mar que há em mim às vezes fica revolto.
(Imagem aqui)