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há mar em mim

30
Mai18

Sobre a Eutanásia

C.S.

Eutanásia.

Creio que é um assunto que ninguém aborda de ânimo leve. É algo sério, porque mexe diretamente com a vida. Com o fim dela, mais concretamente. 

Quando penso neste assunto há uma pergunta que se formula imediatamente na minha mente: se não fossem os avanços da medicina os doentes terminais não morreriam mais rapidamente? 

E logo surge outra: não estaremos a ser egoístas ao negar o fim de um sofrimento contínuo a alguém?

Julgo que todos sabemos que caso o recurso à eutanásia passasse a ser opção só o seria em casos muito concretos e sob uma legislação própria. Ninguém cairá no erro de julgar que o país passaria a aplaudir o suicídio, pois não?

Dizer sim à eutanásia é garantir que uma pessoa em sofrimento prolongado e num estado considerado irreversível possa dizer algo semelhante a isto:"eu sei que vou morrer, sei que não irei melhorar e que os dias que me restam não me trarão qualquer alegria, por isso escolho quando será o meu fim". 

Não será legítimo que possamos ter esta opção?

Não gostavam de ter esta opção caso se vissem perto do fim e em agonia contínua?

E ter essa opção é só isso mesmo, ter opção, ninguém é obrigado a fazê-lo.

Afinal o que se ganha em prolongar o sofrimento? É que eu não consigo pensar em nada positivo que advenha dessa situação. 

Deveríamos ser capazes, enquanto sociedade, de abordar e refletir acerca destes assuntos de forma racional, sem deixar que crenças religiosas interfiram no nossos discernimento. 

download.jpg

 (Imagem aqui)

 

Ontem, de tudo aquilo que li no rescaldo do "Não" do Parlamento, ficaram na minha memória as palavras que Bruno Nogueira escreveu no seu Instagram:

Ganhou o não. O sim, ao que parece, mata.
Nada como esperar em sofrimento e dor, a definhar e a agonizar numa cama, a cuspir sangue e a respirar entre tubos e máquinas, que quando tiver agenda deus logo nos chama para junto dele. Ou o Homem-Aranha. Ou qualquer outro super-herói que conheçam e que apreciem particularmente.
Aguentar que alguém seja espremido até ser só osso e pele e um gemido que se parece mesmo com a pessoa que viveu lá dentro. Até não vos conhecer de tão morto que está, mas vivo à força. Que as dores o façam contorcer-se até querer voltar a ser ninguém.
E talvez aí sim, quando sobrar só uma carcaça com pouco por onde espremer, talvez aí valha a pena morrer. 
Até lá, eles que aguentem, que a nossa vez ainda vai longe.

 

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