Sobre fraquejar...
Entrei na minha quarta semana de confinamento e não consegui evitar sentir, durante todo o dia, um nó na garganta, um peso no peito. Como se estivesse a tentar suster o choro.
Sei que não me posso queixar. Estou bem de saúde, a minha família também e tenho a sorte de ter uma grande varanda onde posso apanhar sol, sentir o vento de norte ou escutar a chuva. Sei disso tudo. Sei que sou uma priveligiada porque, para já, o meu posto de trabalho não corre risco. Mas hoje foi difícil sorrir.
Sinto que não tenho direito a queixar-me porque há tanta gente em situações de risco, tanta gente a trabalhar horas a fio, tanta gente com a vida mais perto da morte...
E no entanto, aqui estou a lamber as minhas próprias feridazinhas. A sentir pena de mim. A repetir palavrões em loop na minha cabeça.
Sim, talvez não tenha direito a lamentar-me. Mas hoje não consigo sentir de outra forma.
Fraquejo e procuro fotos antigas, perdidas no telemóvel, outrora ignoradas e que me parecem agora tão perfeitas e distantes...