C.S.
Andava eu na sempre entusiasmante tarefa de fazer compras no supermercado, mais precisamente no corredor onde estão as massas e azeites, num daqueles dias em que andava em piloto automático (o corpo estava lá, mas a cabeça andava sabe-se lá por onde...), quando alguém me abana o braço e diz:
- Desculpe. Olhe, desculpe.
E eu virei-me. Pestanejei. E percebi finalmente que aquela pessoa que eu estava a ouvir ao fundo, bem ao fundo, a chamar alguém insistentemente, estava, afinal, a tentar chamar a minha atenção.
- Sim? - digo eu como se tivesse acabado de chegar de Marte.
- Desculpe. Queria fazer-lhe uma pergunta. - afirma a minha interlocutora, pessoa que eu nunca tinha visto na vida e que, pela indumentária que envergava, estava a publicitar algum produto no supermercado.
- Diga. - tentei encorajá-la eu atabalhoadamente.
- É que tenho uma sobrinha. Na Ucrânia, tenho uma sobrinha parecida consigo. - começa ela.
E eu penso: "está isto bonito, o que quererá a criatura? Um abraço?!", mas o que disse foi um monossílabo:
- Sim?
- Ela é parecida consigo. - repetiu enquanto começava a olhar para as minhas pernas, com ar de quem me estava a tirar as medidas.
E eu sem perceber nada. Olho em volta e tudo parece normal, só o que estava a acontecer diante dos meus olhos era estranho. E a senhora prosseguiu:
- A minha sobrinha tem o corpo parecido com o seu. - apontou para mim - E eu queria ajudá-la.
Nesta altura acho que a minha boca abriu-se e fechou-se umas quantas vezes, mas não saiu qualquer som. Portanto, a criatura continuou:
- Ela também é assim gordinha e não consegue arranjar calças. Pode-me dizer onde compra as suas calças?
Podia-me ter dado para rir. Ou podia ter dito à senhora para ir plantar batatas, mas eu achei aquilo tudo tão insólito que balbuciei:
- Salsa. Compro-as na Salsa.
- NA SALSA?! MAS ISSO É MUITO CARO!!! - quase gritou a senhora.
E eu envergonhada. E eu a querer fugir. E eu com uma paciência de santa:
- Pois, são caras, mas são boas. Mas às vezes a Promod também tem uma outra de jeito.
E comecei a afastar-me, questionando-me se aquilo tinha mesmo acontecido.
Não me lembrei de lhe dizer: "vá ao meu blog, tenho lá um artigo dedicado às calças que uso".
(Imagem aqui)