Tenho uma vizinha, que mora num prédio próximo do meu. Da minha cozinha, enquanto como o pequeno-almoço, vejo-a. Sempre atarefada, sempre com pressa, sempre com demasiado para fazer. E tudo o que ela faz gira à volta de roupa, que apanha e estende a um ritmo alucinante. Às vezes, quando saio de casa já vou cansada só de olhar para ela. Na sua varanda minúscula a minha vizinha estende as suas preocupações, apanha os seus problemas e dobra as suas dúvidas. Todo o seu mundo se resume àquela varanda, que está sempre demasiado cheia.
Não imaginam o meu alívio quando vi que ontem estava a chover, apressei-me a levantar o estore da cozinha e sorri ao constatar que hoje a vizinha tinha um dia de descanso. Nem sinais de roupa. Nada.
Julgo que nos dias de chuva ela se senta no sofá, a saborear um belíssimo café quentinho, enquanto liga às amigas para colocar a conversa de anos em dia.