Erro
(Imagem aqui)
Com que frequência admito o erro?
Como lido com ele?
Como reajo?
E como reagem vocês? Como? Já se questionaram?
É muito bonita aquela frase que todos sabemos papaguear: "Errar é humano". Atiramo-la como quem pede desculpas pouco sentidas, porque só queremos acelerar a fundo e esquecer que somos falíveis.
O erro, quando temos coragem do enfrentar, pode transformar-nos. O problema é a incerteza dessa transformação. Queremos sempre que tudo o que nos acontece seja para melhor. Certo?
Ninguém troca para umas botas piores, um carro pior, uma casa pior, um emprego pior... Até nas nossas relações amorosas achamos sempre que estamos a escolher melhor. "A próxima é que vai ser..." Convencemo-nos. Porque a anterior foi um erro. Um erro!
Foi mesmo?
Se olharmos o erro de frente, sem medo, o que é que ele nos vai mostrar? A resposta é simples, mas dolorosa. Vai mostrar-nos exatamente o que passamos a vida a tentar esconder: que somos falíveis. Somos falíveis! Todos nós, sem exceção.
Eu erro
Tu erras
Ele erra
Nós erramos
Vós errais
Elas erram
Todos os dias, sem exceção. O erro faz parte da nossa existência, mas temos vergonha do admitir, por isso costumamos camuflá-lo, reprimi-lo ou ignorá-lo.
Ah... Se nós ousássemos. Se fossemos movidos a coragem...
Já pensaram onde poderiam chegar? Quem poderiam ser? Que fantasmas poderiam enfrentar?
Não é o erro que nos paralisa, é o nosso comportamento perante a sua presença. Por isso, decidi olhar para o erro. Analisá-lo. Descobrir a sua composição. Tal como Gedeão analisou a Lágrima.
Querem saber a que conclusão cheguei?
Não sei se querem... Mas não há volta a dar. Vieram até cá. Já sabiam onde isto vos poderia levar... Um erro?
Quem saberá?!
As conclusões não foram fáceis. Tive de ir ao fundo de mim. Regressar. Observar. Esperar.
Quase que hibernava. Quase que desistia...
Mas depois compreendi
38% de medo.
29% de cansaço.
16% de distração.
11% de decisão.
5% de impulso.
1% de intenção.
Mas 100% humano.
É nosso. Não há volta a dar.
É nosso. E é tempo do enfrentar.
Chega de consentir que ele nos paralise.
Chega de permitir que nos envergonhe.
Chega de deixar que nos diminua.
Chega!
O erro é meu e assumo-o. Vou encará-lo. Expô-lo e excomungá-lo. Ultrapassá-lo.
E depois? Depois...
Respiro fundo.
Sorrio.
E vou...
Que outros erros hão de vir.
Mas eu já não sou prisioneira deles.
Já não me escondo.
O erro. Que vontade de rir.
O erro?
Afinal pode mesmo existir.
(Texto original que enviei a uma grande amiga minha, que é atriz, e que depois de adaptá-lo, deu origem à peça Erro, Berro, Barro, que esteve em cena no passado mês de maio na S.M.U.P., Cascais.)