Eu sei...
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Hoje está um espetacular dia de outono. Faz frio, o céu está carregado e as nuvens movem-se com alguma rapidez ao sabor de um vento que vem do mar.
É mais um daqueles dias que me faz questionar tudo o que me rodeia, numa série de pensamentos que se apoderam de mim mesmo sem serem convidados. Às vezes sinto que tenho tantas coisas para contar que podia colocá-las por escrito e no final teria um livro. Mas imediatamente oprimo esse pensamento.
"Como se tu fosses alguma vez capaz de escrever um livro."
"Como se o que tens para dizer interessasse a alguém."
"Como se tu tivesses coragem."
"Como se as palavras não te falhassem."
"Como se..."
Ficamos mais introspetivos com a idade? Merda. Merda! Merdaaaaa!
"Porque não te contentas em ser apenas aquilo que és e ambicionas a algo que não conseguirás proporcionar-te?"
Estou presa? É isso? Estarei presa a mim própria? Ou só ainda não adquiri confiança suficiente para, pelo menos uma vez, acreditar que sim serei capaz, sozinha, por mim e por mais ninguém?
Não faço ideia daquilo que aqui venho fazer. Mas hoje senti que o meu corpo me impelia a escrever.
Há meses que não pego no blog. Desde maio que não há posts novos. Desde julho que não abria sequer esta página. Sinto que nada mudou e, no entanto, tudo está diferente. E hoje os meus dedos queriam pressionar as teclas do computador e é nisso que estou, a satisfazer uma vontade quase física. É possível que sintamos fisicamente a necessidade de escrever? Julgo que sim.
E sendo sincera convosco, não consigo deixar de sentir-me ridícula. Por voltar aqui. Porque parece que este espaço já não faz qualquer sentido, porque a pessoa que o iniciou já não é a mesma, e ainda bem. Porque na maior parte do tempo sinto que não há nada que eu possa ter a dizer que valha a pena ficar escrito. Mas ainda nunca consegui chegar aqui e apagar esta espécie de diário. Um click e puff! fechado para sempre. Uma memória apenas. Por isso abandono-o aos poucos, deixo-o a ganhar pó. Até que a escrita me traz aqui de novo. A escrita que é quase terapia. A escrita que durante o pior momento da quarentena me salvou, não a digital, a de sempre, de caderno e bic, um diário que mantive só para mim. Se a escrita fosse um homem eu diria que mantemos uma relação dessas mesmo complicadas, dessas que nos cortam a respiração e nos toldam os sentidos, que não são inteiramente saudáveis, mas às quais não conseguimos resistir.
Porra! Será isto uma carta de amor às palavras que não consigo escrever?!
(Imagem aqui)
(Imagem aqui)
Com que frequência admito o erro?
Como lido com ele?
Como reajo?
E como reagem vocês? Como? Já se questionaram?
É muito bonita aquela frase que todos sabemos papaguear: "Errar é humano". Atiramo-la como quem pede desculpas pouco sentidas, porque só queremos acelerar a fundo e esquecer que somos falíveis.
O erro, quando temos coragem do enfrentar, pode transformar-nos. O problema é a incerteza dessa transformação. Queremos sempre que tudo o que nos acontece seja para melhor. Certo?
Ninguém troca para umas botas piores, um carro pior, uma casa pior, um emprego pior... Até nas nossas relações amorosas achamos sempre que estamos a escolher melhor. "A próxima é que vai ser..." Convencemo-nos. Porque a anterior foi um erro. Um erro!
Foi mesmo?
Se olharmos o erro de frente, sem medo, o que é que ele nos vai mostrar? A resposta é simples, mas dolorosa. Vai mostrar-nos exatamente o que passamos a vida a tentar esconder: que somos falíveis. Somos falíveis! Todos nós, sem exceção.
Eu erro
Tu erras
Ele erra
Nós erramos
Vós errais
Elas erram
Todos os dias, sem exceção. O erro faz parte da nossa existência, mas temos vergonha do admitir, por isso costumamos camuflá-lo, reprimi-lo ou ignorá-lo.
Ah... Se nós ousássemos. Se fossemos movidos a coragem...
Já pensaram onde poderiam chegar? Quem poderiam ser? Que fantasmas poderiam enfrentar?
Não é o erro que nos paralisa, é o nosso comportamento perante a sua presença. Por isso, decidi olhar para o erro. Analisá-lo. Descobrir a sua composição. Tal como Gedeão analisou a Lágrima.
Querem saber a que conclusão cheguei?
Não sei se querem... Mas não há volta a dar. Vieram até cá. Já sabiam onde isto vos poderia levar... Um erro?
Quem saberá?!
As conclusões não foram fáceis. Tive de ir ao fundo de mim. Regressar. Observar. Esperar.
Quase que hibernava. Quase que desistia...
Mas depois compreendi
38% de medo.
29% de cansaço.
16% de distração.
11% de decisão.
5% de impulso.
1% de intenção.
Mas 100% humano.
É nosso. Não há volta a dar.
É nosso. E é tempo do enfrentar.
Chega de consentir que ele nos paralise.
Chega de permitir que nos envergonhe.
Chega de deixar que nos diminua.
Chega!
O erro é meu e assumo-o. Vou encará-lo. Expô-lo e excomungá-lo. Ultrapassá-lo.
E depois? Depois...
Respiro fundo.
Sorrio.
E vou...
Que outros erros hão de vir.
Mas eu já não sou prisioneira deles.
Já não me escondo.
O erro. Que vontade de rir.
O erro?
Afinal pode mesmo existir.
(Texto original que enviei a uma grande amiga minha, que é atriz, e que depois de adaptá-lo, deu origem à peça Erro, Berro, Barro, que esteve em cena no passado mês de maio na S.M.U.P., Cascais.)
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