C.S.
Quem me dera encontrar as palavras certas para vos confortar. Mas esta semana tem custado a passar, com a vida em suspenso, planos adiados, trabalho acumulado e sonhos que se desfazem é difícil reunir o ânimo de vir até cá. E não falta tempo.
Sinto que tenho estado entorpecida. Recordo os dias da semana passada como se tivessem sido há muito, muito tempo. Lembro-me das caras de desilusão das minhas alunas quando lhes disse que íamos cancelar a visita de estudo a Espanha, agendada para dia 03/03. Disse-lhes que as preferia ver zangadas do que com pneumonia e aí ficaram sem resposta, mas nos seus olhos vi que me acusavam de excesso de zelo. Não me importei, antes assim.
Lembro-me de passar a semana a comentar com os meus colegas que o assunto era mais sério do que parecia no início e, aos poucos, todos se foram começando a consciencializar que sim. Ia pondo gel desinfetante nas mãos quando mais ninguém o fazia. Todos comentavam que havia gente na escola que tinha regressado de Itália. E todos queríamos acreditar que tudo iria correr bem porque, afinal, estavam na escola com o consentimento das autoridades de saúde. E foi o que se viu...
Lembro-me que participei numa feira organizada pela câmara municipal, com a representação de todas as escolas da cidade, quinta, sexta e sábado, e lembro-me de pensar: "não devíamos estar aqui, mas porque não foi isto cancelado?!", enquanto olhava para os miúdos a fazerem coreografias ensaiadas ou enquanto reencontrava velhos conhecidos que me cumprimentavam afavelmente e aos quais não tive coragem de dizer para manterem a distância recomendada.
Lembro-me de tudo isto e penso que era inevitável que tenhamos chegado aqui, porque somos de afetos e porque tendemos a acreditar que só acontece aos outros.
Agora? Agora é manter a calma e sermos os melhores cidadãos de que há memória, ou seja, cumprir com o que nos é pedido. Acalmar. Ficar em casa quem pode ficar. Ter muito cuidado e tomar todas as medidas preventivas a quem anda na rua, a quem tem mesmo de ir trabalhar. Ajudemo-nos.
Separados mas juntos. A pensar nos idosos, a pensar em quem tem asma, a pensar nos doentes cardíacos, nos diabéticos, nos doentes oncológicos...
Separados mas juntos, para que todos possamos voltar a ser, o mais rápido possível, o povo caloroso, beijoqueiro e afável que somos, mas até lá contenção. Separados mas juntos.
É tempo de pensar em todos.
Imagem retirada da conta de IG de Nádia Sepúlveda.
(E ainda bem que o governo tomou as medidas que tomou ontem, até poderiam ter ido mais além. Mas já foi bom. Esperemos que cheguem.)