A feira
Ardem-me os olhos. Estão cansados.
É quase hora de ir para a cama.
Mas há ruído.
Ouço o barulho da feira daqui.
Parece-me estranho uma feira em novembro.
Cresci num local onde só há feira quando vem o bom tempo. Final de junho.
Vivo aqui há 3 anos e ainda não me habituei a esta.
Nunca a vi, só a oiço.
O barulho parece não combinar com o anoitecer às 18h ou o frio.
Na feira da minha infância havia luz do dia até às 21h. Havia a leveza das mangas curtas e o fresco da noite que sucede ao calor das tardes de junho no alentejo. Havia os gelados e a certeza de que na manhã seguinte não era dia de escola, porque a feira chegava na altura certa, como uma celebração perfeita do fim das aulas e do início das férias grandes.
A feira que se chama de S. João, mas que dura para lá do S. Pedro, aquele que confere o feriado do município, era local de encontros garantidos, poucos inesperados, uma vez que toda a cidade converge para o mesmo ponto.
Havia alegria, música, gargalhadas, carroceis, farturas, luzes, cheiro a cerveja, a frango e a polvo assado na brasa.
Ia-se à feira em família. Encontravam-se os amigos. Ponha-se a conversa em dia.
Éramos felizes ali. Na feira. Em junho. Era simples ser feliz.
Esta não me faz feliz.
Esta não é minha.
Esta é só um barulho chato que me atrasa o sono.
E nada mais.
(Imagem aqui)