Reflexão sobre a Manifestação de sábado
Já passaram dias suficientes para deixar as ideias assentar. Sei que não me vou exceder, ainda que possa parecer.
Dou aulas desde 2008. O dia 17/12/2022 foi o dia em que me senti mais orgulhosa por pertencer à classe docente. Vi união, determinação e alegria, apesar do tema que nos juntou no Marquês ser sério. Vi esperança, apesar de há anos sucessivos só nos fecharem portas. Vi garra. E vi uma causa que é comum a todos servir-nos de motor: a defesa da escola pública.
Os professores são dos profissionais mais mal tratados na função pública e, no entanto, sem eles um estado democrático não tem futuro.
Acredito verdadeiramente que o Sr. Ministro, João Costa, está a colocar em causa o futuro da educação acessível a todos, porque deixar que a política entre deliberada e livremente nas escolas é condenar a igualdade. É colocar em causa a equidade na coloação de professores e, ao mesmo tempo, na gestão de alunos.
Os professores estão a desaparecer porque são uma classe envelhecida e pouco atrativa, uma vez que ninguém quer trabalhar com a incerteza que esta profissão acarreta nos primeiros anos, (no meu caso foram 10, mas há quem seja contratado 15, 20...), nem com a certeza que nunca conseguirá chegar ao topo da carreira. E provavelmente nem a meio... Com os entraves que as quotas e os 5.º e 7.º escalões representam.
Os professores são dos profissionais mais mal tratados deste país, todavia, continuam a ser das pessoas mais disponíveis, voluntariosas e empáticas que por cá temos.
Esta greve chegou no momento certo. Um momento de saturação. Não aguentamos mais. E por isso tem sido um sucesso. É este o nosso tempo. Nem mais, nem menos. É hora de dizer basta. É hora de reinvindicar. Porque não somos nós que mentimos. Porque nos indigna ter um ministro que não só não nos valoriza como nos tenta denegrir junto da opinião pública.
E não, isto não é uma guerra de sindicatos. Isto é uma luta de professores. Dos que cá estão e querem permanecer. Mas com aquilo a que temos direito.
Tem havido criatividade nesta greve, foi crescendo à medida que os meios de comunicação tradicionais nos ignoravam. Até que não puderam ignorar mais.
Sábado fomos cerca de 25000 a dizer que basta. Já chega.
Somos professores e temos valor.
Somos professores e queremos respeito.
Somos professores e temos razão.
Por isso, não. Não nos calarão.
Que venha janeiro.
Temos razão.
E resistiremos.
Janeiro é nosso.
(Imagem aqui)