C.S.
Sinto-me estranha. Há vários dias que me sinto assim.
Os últimos dias têm sido ricos em acontecimentos, alguns que jamais serão esquecidos e outros que daqui a uns tempos talvez já ninguém se lembre que aconteceram. E, no entanto, não me tem apetecido vir aqui opinar sobre nada disto. Eu que tenho sempre uma opinião, tenho andado bastante calada.
Tenho evitado as notícias, mas hoje em dia elas chegam-nos sem qualquer aviso, até
no telemóvel recebemos "as últimas".
Sou incapaz de compreender o fascínio que há em escrutinar as histórias dos infelizes que perderam a vida naquele impiedoso incêndio.
Não tenho capacidade para assimilar que Judite de Sousa, que passou por uma tragédia pessoal, vá fazer notícias junto de cadáveres, apontando para eles, numa frieza incompreensível. Também me deixa atónita que a tvi, entre tantos jornalistas que tem, tenha decidido escolher, para descer aos infernos, uma pessoa que psicologicamente não está a 100%, lutando ainda com os seus dramas pessoais.
Fico literalmente de boca aberta, pasmada, quando ao fazer zapping me deparo com uma outra senhora jornalista, esta da sic notícias, que em direto vai contando os passos que separam a igreja onde estão a decorrer as cerimónias fúnebres, de uma das vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, da entrada do cemitério e durante a curta caminhada vai lamentando que esteja do lado de fora da igreja, por a cerimónia ser privada.
E eu sinto-me estranha com tudo isto.
Depois temos uma Ministra da Administração Interna que gosta de recusar ajudas em tempos de verdadeira crise e caos. Temos gente que aponta o dedo aos GNR, por não cortarem todas as estradas, aos bombeiros, por não serem tão céleres quanto deviam, à meteorologia, porque não previu a queda do raio...
Há gente que fala na tv e que diz que o que faz falta ao país são engenheiros florestais, num discurso oportunista para vender uma profissão do seu interesse.
E eu fico mal disposta com tudo isto.
E são as greves de professores que são verdadeiros tiros no pé e são as fugas de informação sobre os exames nacionais e são os jornalistas que confundem publicidade com notícias e são prazos para cumprir e é um calor dos diabos...
E a mim apetece-me fugir. Dói-me a atualidade e a realidade.
(Imagem aqui)
Desculpem-me, mas hoje não haverá Às quintas viajamos..., voltará na próxima semana.