O inferno aqui ao lado...
Monchique está a arder. Há dias que está a arder, mas cada dia parece uma semana.
Todas as manhãs abro a janela e sinto que o inferno está aqui mesmo ao lado. Tenho a varanda cheia de cinza, o ar está pesado, o céu está cinzento. Quem me dera que fosse chuva, penso. Mas não é. É fumo que anda no ar e o cheiro não engana.
O inferno anda aqui ao lado. Mas nós fazemos a nossa vida normal. Vou à praia com a família, mas a praia também é um cenário desolador. A água suja, toda ela coberta de cinza.
Estamos de férias, mas não completamente felizes, porque ninguém é feliz quando se sinte ameaçado. E o inferno está aqui mesmo ao lado. Ao lado da minha casa, a consumir os locais que conheço.
"Tia vamos à água", pede a B. insistentemente, porque quando se tem sete anos não se vê a cinza, nem se sente o temor. E ainda bem. Não podia ser de outra forma.
Vou com ela à água, mas a tristeza de um horizonte fumarento não me larga.
O inferno anda aqui ao lado e eu só quero que ele vá embora.