A nova polémica a envolver professores
Adoro o nosso país. Como não adorar? Portugal é um país fantástico, dono de uma enorme diversidade, apesar da sua pequenez. Tem uma costa maravilhosa e um interior sempre pronto a receber bem quem o decida visitar. Mas há coisas no nosso país que me irritam, que me magoam e que são, para mim, difíceis de compreender. Uma delas é a perseguição que há neste país aos professores. Uma profissão que em temos já foi tão digna e respeitada é vista hoje em dia como um dos parasitas da sociedade.
Na verdade não sei bem quando isto terá começado e se terá tido um único porquê ao qual possamos apontar o dedo, mas a verdade é que esta profissão parece ter-se tornado no parente de que ninguém gosta, alvo de imensas críticas, quase todas destrutivas e quase todas sem conhecimento de causa.
A mim parece-me que a opinião pública tem sido muito influenciada pelos meios de comunicação e, neste momento, está instalada mais uma polémica, que procura denegrir o trabalho dos professores na praça pública.
Quero desde já dizer que acho, como a maioria dos portugueses, que os valores que as famílias gastam em manuais escolares é absolutamente exorbitante, que acho que, à semelhança do que acontece noutros países da europa, os alunos deveriam ter acesso aos manuais de forma gratuita nas escolas públicas e que estes deveriam ter uma durabilidade muito maior do que aquela que têm.
Dito isto, tenho de vos confessar que acho uma tremenda idiotice que se ande a acusar os docentes portugueses de se deixarem comprar pelas editoras. E acho-o, pura e simplesmente, porque é uma extraordinária mentira. É verdade que antigamente as editoras ofereciam aos professores um modelo do manual do professor, para que estes pudessem escolher, tal como está previsto na lei, qual o manual com que se trabalhará em determinada escola durante um ciclo de seis anos, (creio). Hoje em dia as coisas já não funcionam assim, as editoras não oferecem o manual a todos os professores que lecionam aquela disciplina, disponibilizam-no aos que participam numa pequena ação de formação e, aí sim, depois disso têm acesso, única e exclusivamente, ao manual, que muitas vezes nem é uma versão concluída. Nada de iPads, iPhones, viagens ou manuais para os filhos.
Não me interpretem mal, não estou a defender as editoras e muito menos a dizer que a forma como este mercado se desenvolve em Portugal é a mais correta. Acho que as editoras, com o aval do ministério da educação, têm nos manuais escolares uma mina de ouro. O que estou a tentar explicar é que acusar todos os professores portugueses de se deixarem comprar pelas editoras é uma completa palermice. Muito longe da realidade e sem qualquer fundo de razão.
Basta que visitem a escola pública que tenham mais perto da vossa residência e vejam o que por lá se passa. Depois contam-me se o que viram por lá foram professores que vivem de forma desafogada, envoltos em novas tecnologias e produtos topo de gama, ou se, por sua vez, se depararam com pessoas que fazem o melhor que podem e sabem, com os meios que as escolas lhes disponibilizam, que têm um número de fotocópias limitado por ano letivo, que muitas vezes levam o seu computador pessoal para poderem trabalhar em condições e, até, tantas vezes levam marmita com comida que aquecem no micro-ondas da sala de professores, se por acaso, existir esse luxo, para puderem poupar algum dinheiro, que acabam por gastar em gasóleo, devido à distância a que trabalham das suas casas.