Tu e eu
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Há pessoas que nascem com um propósito. Gente que vem ao mundo quase com o destino traçado. Gente que cresce e nunca hesita, que sabe exatamente o que responder ao clássico "O que queres ser?".
E há outros que não. Os que vagueiam. Os que acabam a fazer alguma coisa de que até poderão vir a gostar, mas sem nunca se sentirem completamente realizados. Os que têm dúvidas. Dúvidas sempre. Tem aos 14 e continuam com elas aos 18. Os que estranhamente seguirão com dúvidas pelos 20's adentro. Que chegam aos 30's com esperança de que as dúvidas se acabem, quase a desejar que se resignem. Alguns conseguem-no.
E os que não? Os que avança pelos 30's com uma inquietação constante. Que em vez de diminuir com o tempo parece que se agiganta.
Em que se tornarão estes eternos insatisfeitos?
Algum dia se renderão?
Algum dia admitirás?
Hoje está um espetacular dia de outono. Faz frio, o céu está carregado e as nuvens movem-se com alguma rapidez ao sabor de um vento que vem do mar.
É mais um daqueles dias que me faz questionar tudo o que me rodeia, numa série de pensamentos que se apoderam de mim mesmo sem serem convidados. Às vezes sinto que tenho tantas coisas para contar que podia colocá-las por escrito e no final teria um livro. Mas imediatamente oprimo esse pensamento.
"Como se tu fosses alguma vez capaz de escrever um livro."
"Como se o que tens para dizer interessasse a alguém."
"Como se tu tivesses coragem."
"Como se as palavras não te falhassem."
"Como se..."
Ficamos mais introspetivos com a idade? Merda. Merda! Merdaaaaa!
"Porque não te contentas em ser apenas aquilo que és e ambicionas a algo que não conseguirás proporcionar-te?"
Estou presa? É isso? Estarei presa a mim própria? Ou só ainda não adquiri confiança suficiente para, pelo menos uma vez, acreditar que sim serei capaz, sozinha, por mim e por mais ninguém?
No primeiro dia do ano, a praia estava cheia, apesar do frio. Havia sol também, que servia para disfarçar a loucura de quem insistiu que no primeiro de janeiro havia de tomar o primeiro banho de mar.
Pairava no ar uma sensação de euforia, resquícios da festa que havia terminado há um par de horas. A manhã ia-se construindo entre risos infantis e gritos de guerra, que ficavam subitamente agudos assim que a pele quente entrava em contacto com os 13° graus a que a água do mar se encontrava.
A contrastar com a ânsia humana, que quer sempre mais e melhor todos os anos, os pardais andavam por ali, na sua liberdade inata e roubavam restos de comida da esplanada sobre o mar.
Como é possível que vivamos a vida de um modo tão frenético, tão stressante, que às vezes damos por nós a pensar: "já estamos em junho? Como é que vim cá parar? Para onde foi o tempo entre o Natal e o presente?".
Será isto viver no limbo?
Será isto o aproximar do estado de burnout?
Tenho memória de momentos fugazes de felicidade nos últimos meses, mas a maioria é um emaranhado de trabalho, confusão, stress, prazos, testes, reuniões, barulho ensurdecedor, gritos que não se materializam, frustrações, desilusões...
E o tempo, traiçoeiro, vai escorrendo, fazendo troça de mim e do meu estado de semiconsciência.
Estamos em junho. O sol já aquece.
E eu sinto-me, ainda, perdida num labirinto coberto de nevoeiro frio e denso.
Um frio que chega aos ossos. Em junho.
Mas eu não baixo os braços.
Eu não hei de desistir.
Quero sair.
Quero muito sair!
E sei que já faltou mais.
(Imagem aqui)
Tenham uma ótima semana e enviem-me muita energia positiva. Ou isso ou um bilhete de avião para um destino turístico qualquer... Tenho a certeza que será mais eficaz.
😆😇
🙏
- Hey! Tu aí... Sim, tu. Tu que olhas para o monitor. Não adianta olhares para o lado ou tentares disfarçar. É mesmo contigo que eu quero falar.
O meu nome é Artur. Nunca saberás se este é o meu verdadeiro nome, mas isso agora não interessa nada. O que interessa é que continues a ler e acredites no que te vou dizer.
Eu já fui uma pessoa como tu. Já tive sonhos e já alimentei esperanças. Votava nas eleições que achava serem importantes. Casei-me, mas não tive filhos. Fui deixado ao fim do terceiro ano de casamento. Trocado por outro. Culpa minha, disse ela, que não a soube estimar. A puta. Mas amava-a. Apenas lhe bati uma vez.
Eu já fui outra pessoa. Já tive uma vida. Nem sempre me escondi atrás do ecrã de um computador. Fui forçado a fazê-lo, sim, forçado.
"Por quem?" - perguntas. Pelos mesmos que me raptaram o cão faz amanhã cinco meses. Pelos mesmos que me obrigaram a ficar embriagado na festa da firma e a dizer aquelas alarvidades todas ao chefe. Pelos mesmo que ameaçaram matar a minha mãe se eu continuasse a ligar para a GNR a tentar pedir ajuda.
Esta é agora a minha realidade. Já fui uma pessoa, mas agora já não sou. Pelo menos já não sou eu. Estou confinado a quatro paredes e tudo o que eles me disseram foi que não posso sair daqui. Não posso ver ninguém. Não me deixam fumar. Nem beber. E não, não tenho smartphone. Tiraram-mo, como deves calcular... Pensam que sou o fantoche deles.
Não sei o que querem de mim, mas sei que não quero colaborar mais com eles. Não deixarei que me obriguem a fazer mais coisas contra a minha vontade. Estrangular a vizinha durante a noite foi a gota de água. Nem sequer tinha nada contra ela. A ter alguma coisa a apontar-lhe seria o facto de ela deixar sempre o carro à minha porta e não à dela. Agora nunca mais o vai tirar daqui e eu pergunto-me quem o fará. Mas não importa. Amanhã também já não vou cá estar. Mas vocês vão. E eu preciso da vossa ajuda.
Estão preparados?
A vossa missão é contar a verdade. Tão simples quanto isso. Quando ouvirem falar de mim contem o que eu vos transmiti. Digam apenas a verdade.
(Imagem aqui)
NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA - FOI ENCONTRADO MORTO O HOMEM DE 43 ANOS QUE VIOLOU E MATOU A VIZINHA EM ABRAVESES, VISEU. TRATAVA-SE DE UM DOENTE DA ALA PSIQUIÁTRICA DO CENTRO HOSPITALAR CONDE DE FERREIRA, NO PORTO, QUE ESTAVA DESAPARECIDO DESDE O PASSADO DOMINGO. AS AUTORIDADES JÁ ESTÃO A INVESTIGAR, MAS ACREDITA-SE QUE O HOMEM SE TERÁ SUICIDADO.
O que queres fazer?
É terrível esta pergunta.
Assustou-me no 9º ano, quando eu tinha 14 anos e tive de tomar uma decisão para o futuro. Na altura eu sabia duas coisas: que queria que o Benfica fosse sempre campeão e que as únicas aulas que me entusiasmavam verdadeiramente eram as de Português. Dessem-me textos para ler e temas para escrever e eu era uma adolescente feliz.
Fantasiava com o amor. Era romântica e nostálgica e sonhava com uma vida melhor. Os livros eram o meu aeroporto, numa altura em que eu ainda não fazia a mínima ideia do aspeto de um. Ninguém me ajudou na decisão, naquele ano de 2001. Porquê? Porque na minha família impera a baixa escolaridade, (os meus avós, maternos e paternos, foram toda a vida analfabetos, por exemplo.), e a minha mãe ouvia-me mas, compreendo hoje, não estava minimamente dentro do sistema de ensino e não tínhamos consciência lá em casa do peso da decisão que eu ia tomar. Sorte a minha, nunca poderia ter sido outra. As humanidades eram o que me apaixonava e os testes psicotécnicos evidenciaram isso mesmo.
Fiz o secundário com poucos percalços, mas um deles foi compreender tardiamente que as notas do secundário seriam o meu bilhete de acesso ao ensino superior. Por esta altura comecei a achar que queria uma vida de jornalista, (como não desejar ganhar a vida a escrever?!), ao mesmo tempo em que me rendia à fotografia, ainda que não tivesse qualquer equipamento, fascinava-me o facto de poder conservar para sempre um instante.
Sonhava em viver perto do mar ou mudar-me para o Porto com a minha melhor amiga, onde dividiríamos casa e seriamos universitárias empenhadas.
Acontece que nada disto aconteceu.
Por um infeliz acaso eu fiquei mais um ano na secundária e os meus amigos foram às suas vidas. A minha melhor amiga não foi para o Porto, nem para Lisboa, que era a sua segunda opção. Ficou em Évora. E eu?
Eu senti-me meio abandonada durante uns tempos. Depois arregacei as mangas e fiz o que tinha a fazer. Trabalhei durante o verão. Fiz 18 anos e recebi o meu primeiro ordenado no mesmo dia. Entrei no 12º outra vez. Nunca tinha repetido um ano e foi estraníssimo. Saí do grupo de teatro porque já não era a mesma coisa, pois faltavam-me as minhas pessoas, mas melhorei algumas notas e concluí a que havia para concluir. Tirei a carta. E fui pensando no futuro. A professora de Português dizia-me para ler Cartas a Um Jovem Poeta, de Rilke, com o intuito de me inspirar, enquanto a professora de Psicologia me falava de um novo curso na Universidade do Algarve. Também me disse que a língua espanhola era a próxima língua a entrar em força nas escolas.
E eu ponderava. Ponderei até ao último momento. Até não poder mais mesmo. E sem certezas de nada, sem exemplos próximos, tive medo de colocar os meus pais numa situação económica delicada e decidi-me pelo curso que me daria a oportunidade de ficar em casa - Línguas, Literaturas e Culturas - Estudos Portugueses e Espanhóis.
Nunca sonhei ser professora, mas foi no que me tornei. A minha profissão já me deu muitos momentos felizes. E no entanto, não sei se é o que quero ser a vida toda. E este assunto é como uma dorzinha chata. Não mata, mas mói.
Talvez seja só o cansaço a falar. Talvez estas palavras sejam motivadas pela quantidade insana de trabalho que tenho enfrentado ultimamente, (este ano tenho mais de 150 alunos!), mas a verdade é que estou cansada. A segunda verdade é que ainda existe em mim o sonho infantil de viver de e para as palavras. O que é uma grande idiotice, eu sei. E sim, sei como é difícil arranjar emprego hoje em dia e sei que não tenho experiência em mais nada que valha a pena para além do ensino. Eu sei tudo isso. E contudo...
O que queres fazer?
Ainda é uma pergunta que me assusta.
(Imagem aqui)
Olho pela janela.
O sol brilha lá fora para nos enganar.
O vento que vem de norte sopra forte e gélido.
Tão frio. Encolhemo-nos perante o seu rigor.
"Quem de dera estar noutro lugar" - penso.
Sonho com lugares distantes.
Elevo-me.
Levo o pensamento para sítios mais próximos.
Faço planos. Traço metas.
Hei de pôr tudo em prática.
Aventurar-me no desconhecido.
Porque agitar é preciso.
Mexer com a vida para ver o que ela faz de nós.
Viver sem medo para chegar onde devemos.
Se hoje quero mais. Amanhã já não é tarde.
Olho para ti. Observo-te.
Sorrio. Dou-te a mão e digo: "Vamos!".
(Imagem aqui)
E tu sabes lá!...
Sabes lá o que é andar sempre à pressa,
ter a cabeça a prémio só por existir.
Tu sabes lá!...
O que é chegar a casa já de noite,
não ter tempo para mais nada que não seja subsistir.
E tu sabes lá!...
As horas que passo acordado,
a pensar, desesperado, numa forma de escapulir.
Tu sabes lá!...
Não sabes o que farias se fosses eu.
Não sabes minimamente o que me corroeu.
Tu não sabes.
Não sabes o que é entregar o coração diariamente.
Não sabes o que é viver doente.
Não sabes que te amo desesperadamente.
Não sabes que o meu amor sempre te pertenceu.
Tu não sabes.
Simplesmente não sabes.
Sabes lá tu o que é ser eu!
(Imagem aqui)
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