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há mar em mim

16
Jan23

Sobre sábado, o dia que foi dos Professores

C.S.

No sábado, os professores portugueses voltaram a dar uma aula de cidadania ao país, ao ministro da educação e a todo o governo.

100000 professores apresentaram-se na capital. Não se deixaram intimidar pelas mensagens que lhes invadiram as redes sociais no dia anterior. Uma tentativa de demovê-los? Provavelmente.

100000 pessoas movidas pela certeza que estão a fazer o que é certo: lutar pela escola pública. E sim, o melhor para a escola pública também passa por tratar bem os seus professores e devolver-lhes o que lhes pertence.

100000 pessoas que se reencontraram e se abraçaram, porque todos nós já trabalhámos em tantas escolas, todos nós acumulamos km e somamos alunos e colegas com quem aprendemos ao longo dos anos.

100000 pessoas que cantaram, dançaram, apitaram, fizeram barulho, gritaram que "não pararão", porque chegou a hora de exigir o que lhes tiram há anos. 

100000 pessoas que suportaram a pandemia e nem aí, quando o país descobriu a falta que lhe fazem os professores, foram devidamente reconhecidos. Porque às vezes as palavras não são suficientes. É preciso dar condições dignas de trabalho, é preciso que o ordenado dê para pagar a casa no fim do mês, é preciso que as pessoas sejam avaliadas de forma justa, sem entraves à sua progressão. É preciso que o ambiente nas escolas nos permita respirar, rir e nos dê vontade de permanecer.

Sobretudo, é urgente que se ouçam os professores e se compreenda que eles só querem uma escola mais digna, justa e saudável para todos.

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05
Set22

Uma espécie de Carta Aberta ao Ministro da Educação e a Todos os Sindicatos de Professores

C.S.

Tenho 35 anos, quase 36 e sou professora desde 2008. Escrevo esta carta aberta movida pelo cansaço. Sim, estou cansada depois de um mês de férias. Estou cansada, tal como tantos dos meus colegas espalhados pelas escolas do país. Estou cansada de um governo que não respeita minimamente os professores. E estou cansada dos sindicatos também. É esta a dura verdade. Porque neste momento sentimo-nos sós e sentimos que ninguém nos representa. Somos tantos e parece que ninguém compreende a nossa situação. Não é triste? Sentir solidão numa das profissões que lida com mais gente. Triste paradoxo. 

Não é triste ter que iniciar mais um ano letivo com um sentimento de derrota? Não é triste querer fazer algo, o que for, mas constatar que todos nos queixamos mas ninguém se levanta. Porque achamos que não servirá de nada, dizemos. Repetimos. Enquanto tomamos mais um café amargo e engolimos as mágoas e o orgulho.  

Sabem como cheguei aqui? Como cheguei ao ponto de vos escrever estas linhas? Vou-vos contar. Porque todos os anos, em todas as escolas por onde já andei, sei de mais um professor que sucumbiu à depressão. Coitado, dizemos. Enquanto vamos pensando quando chegará a nossa vez. 

Cheguei aqui porque os concursos de professores são esgotantes e injustos. Tremendamente injustos. Com mudanças das regras todos os anos, não havendo um mínimo de respeito pelas vidas das pessoas. Com ultrapassagens que geram discórdia. (Supostamente temos concursos de 4 em 4 anos, mas as leis mudam anualmente. Que lógica é esta?). 

Cheguei aqui porque atravessámos uma pandemia, custeando do nosso bolso as aulas em casa, fazendo tudo o que estava ao nosso alcance para que os nossos alunos passassem por ela o menos lesados possível. 

Cheguei aqui porque cada vez me pedem mais. Mais papéis. Mais reuniões. Mais formações. Mais formas de diversificar as aulas. Mais, mais, mais... Sem querer saber como. Como é que o conseguimos fazer? Já pensaram? Claro que é em detrimento da nossa vida pessoal e dos nossos interesses. Anulamo-nos para fazer acontecer. Anulamo-nos para que as escolas não parem. 

Cheguei aqui porque a inflação continua a sua escalada e os salários não aumentam. Mas temos de continuar a atestar o depósito para ir trabalhar longe de casa com um sorriso no rosto. 

Cheguei aqui porque gostar dos alunos não chega. Gostar de ensinar não chega. Ser bom comunicador não chega. E sabem porque não chega? Porque a despensa de casa não se enche com sorrisos e abraços. 

E já chega da conversa de que os professores são missionários. Não são. Os professores são pessoas normais, com problemas reais, salários que não pagam o seu trabalho e estão tremendamente cansados e descontentes. E só não sabem como demonstrá-lo. 

 

escola-2.png

(Imagem aqui)

03
Dez20

Que sejamos pacíficos, mas não dormentes

C.S.

Ontem, a propósito do post que escrevi, uma amiga enviou-me mensagem já tarde. E escreveu: "Ninguém se importa. Toda a gente sabe. Toda a gente anda descontente, mas ninguém se importa.". Fiquei a trocar mensagens com ela até tarde e hoje acordei a pensar no assunto. 

Realmente não nos importamos? Ou temos sido convencidos de que não adianta levantar a voz porque nada vai mudar?

Ano após anos saem notícias onde se valoriza o facto dos portugueses serem pacíficos. E ainda bem. Gosto de viver num país onde não existem grandes conflitos.

Mas pacífico não é o mesmo que dormente. E nós neste momento estamos letárgicos. E não é mais fácil governar quem não reclama? Não é mais fácil aplicar o dinheiro público erradamente quando não há reação? Não é mais simples deixar cair os pilares de uma sociedade, (Saúde, Educação e Justiça), quando ninguém se parece importar? Não dá mais azo a que haja corrupção quando toda a gente finge que não vê? 

A minha grande questão é:

Porque permitimos que tal aconteça?

 

Existe em Portugal uma descrença enorme na classe política. Da direita à esquerda ninguém nos convence. Eu sei, porque sinto o mesmo. Mas se calhar está na hora de entender que a abstenção, (que não para de aumentar), não é a forma certa de reagir, porque nos tem conduzido aqui. A lugar nenhum. Se calhar está na hora de começarmos a pensar no que poderemos fazer, todos nós, cidadãos deste país que a cada dia afunda mais um pouco, para que algo mude. 

Tal como disse ontem, aceitam-se sugestões. Comecemos a debater, a falar mais, a fazer-nos ouvir. 

22
Mai20

Unidos pelo presente e futuro da Cultura em Portugal

C.S.

Não, não sou artista. Infelizmente. Mas sou leitora, espectadora, ouvinte, faço parte do público. Gosto de olhar para quadros, mesmo que não os saiba interpretar. E adoro fotografia.
Aplaudo. Rio. Choro. Às vezes grito. Outras vezes fico sem palavras.
Já me arrepiei. Já fiquei frustrada. Já ri até às lágrimas.
Mas nunca fiquei indiferente.
A Cultura é capaz de nos proporcionar tudo isto e ainda mais. Fica em nós. Transforma-nos. Identifica-nos. Se a genética nos explica a nossa origem, a cultura faz de nós quem somos, porque somos altamente influenciados pelos livros que lemos, os filmes que vimos, as séries/programas de tv que consumimos, as músicas que ouvimos em loop, a peça de teatro que vimos e não esquecemos...
Não tenho qualquer dúvida de que eu não seria a pessoa que sou hoje se não tivesse aprendido a apreciar a leitura aos 10 anos. Ou se não tivesse ido ao teatro sempre que podia, na adolescência, na companhia da minha melhor amiga, que hoje é atriz. Ou se não tivesse crescido a ouvir Rui Veloso e os Da Weasel nos anos 90. Ou se não tivesse visto todos os filmes que vi. 

Eu não sei o que seria. Mas não seria a mesma coisa, porque a cultura molda-nos. E nós precisamos dela para crescer.
É altura de retribuir.
É altura do país retribuir.

20200521_180948_0000.png

      (Imagem criada com a APP Canva)

28
Mar20

Eventualmente ficará tudo bem

C.S.

"Vamos ficar todos bem."
É uma frase que adoptámos para nos dar conforto e esperança. Um frase que pedimos às crianças que pintassem, chutando, dessa forma, o medo para longe.
Uma frase que nos agarra à vida quando morte anda à solta, mais acutilante que nunca.


Mas os números estão aí. Todos os dias, com hora marcada. A cada dia mais assustadores.


Eventualmente ficará tudo bem, exceto para os que partem. Exceto para os que foram para o hospital e não conseguiram sair de lá com vida. Sem oportunidade de ver familiares e amigos, ainda que por uma última vez.


Ficará tudo bem, sim. Mas não esqueceremos quem já cá não estará para os abraços apertados e os jantares demorados.


Estes dias lembram-nos que Pessoa tinha a razão do seu lado quando, sob o heterónimo de Alberto Caeiro escreveu: Quando chegar a Primavera, se eu já estiver morto, as flores florirão da mesma maneira.

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24
Mar20

"Éramos felizes e não sabíamos" - Parem lá com isso, porra!

C.S.

(Imagem aqui)

 

Vamos lá a saber...

Quantas vezes já se depararam com esta frase nas redes sociais: Éramos felizes e não sabíamos.

5?

10?

30?

99? Mais... 

Dá vontade de ir à janela gritar: ACABEM LÁ COM A MERDA DA LAMÚRIA QUE JÁ NÃO HÁ PACHORRA, PORRA! 

A sério, ninguém acredita que vocês eram felizes e não sabiam. Porquê? Porque a pessoa tende a reconhecer quando está feliz, normalmente é quando não está doente, a vossa vida corre bem, ordenado garantido no final do mês, não têm dívidas por aí além para pagar, vão jantar fora de vez em quando, com sorte com a cara metade que até já fisgaram, e até têm uma viagenzinha ou duas em vista. É isto, para os comuns mortais não é muito mais que isto. 

A não ser, claro está, que já tenham filhos e aí já entram nas vossas contas o bem-estar deles e o quão realizados os conseguem fazer sentir. Porque a vossa criança é todo o vosso mundo e ai de vocês que julguem ser seres individuais, independentes da família que criaram. Neste caso, a vossa felicidade fica dependente do sorriso das vossas crianças. Mas também é fácil ver isso. Ou não?

Se eles têm entre 0 ou 7 anos e passam 50% do tempo a chorar... Já foram. Não há felicidade que aguente. Vão por mim, não são felizes em quarentena, mas também não o eram antes. 

Se os vossos filhos têm entre 8 e 18 anos e passam mais de 60% do tempo a revirar os olhos... Paciência, também não podem dizer que eram felizes. Mas não se sintam mal, toda a gente sabe que um pré adolescente/adolescente suga a vida a todos os seres vivos com os quais convive, usando para isso a sua irritabilidade crónica e desdém por tudo o que não é um ecrã. 

Se não se encaixam nos perfis acima descritos, parabéns! Com certeza que eram felizes, mas de certezinha que já o sabiam antes, porque pais que têm adolescentes em casa e que não os veem soprar ou revirar os olhos na maior parte do tempo sabem que foram abençoados por uma entidade divina qualquer. 

(Imagem aqui)

 

O problema, minha gente, é que a maioria dos seres vivos que estão a reproduzir a frase que dá o título a este post até à exaustão são... 

(Imagem aqui)

 

INFLUENCERS!!!!! Sim. Ver-da-de!!!! Aquelas que pessoas que passam o seu tempo a viajar e quando não estão a viajar estão a receber cremes, roupas e malas para depois nos tentarem vender. 

Acreditam? 

Elas eram felizes e não sabiam. 

Tenho tanta pena! 

(Imagem aqui)

 

18
Mar20

Possível estado de emergência

C.S.

E hoje, que estou fechada em casa, a minha memória traz-me aqui, à serra, aos longos e felizes dias de verão em que andei à descoberta do nosso país.
Olho para esta foto e vejo liberdade.

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Se hoje for decretado o estado de emergência em Portugal perderemos um pouco da nossa liberdade, mas lembrem-se que é por um bem maior, é para que possamos mais rapidamente sair das nossas casas e voltarmos a estar juntos, voltarmos a abraçar, voltarmos a poder ir onde nos apetecer.

Separados mas mais juntos que nunca, por um bem maior.

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