C.S.
Quem me visita com regularidade sabe a minha profissão, mas também sabe que eu não falo muito dela. Lá me queixo da instabilidade que lhe é inerente , dos concursos, de uma ou outra conversa tola à hora de almoço, mas pouco mais.
Porquê? Por várias razões, desde o facto de este ser um espaço onde gasto algum (muito?) do meu tempo livre e, como tal, julgo que seja normal que me queira afastar dos assuntos profissionais, por outro lado, tenho bem definida na minha cabeça a ideia de que trabalho com menores e que o que acontece na escola não deve ser exposto, (ao contrário daquilo que muita gente faz, não é verdade? Sim, refiro-me, por exemplo, às fotos de respostas absurdas que os alunos dão nos testes e que volta e meia são colocadas nas redes sociais.). Sou completamente contra esse tipo de exposição, ainda que os alunos não sejam identificados. Acho um ato desses uma grande falta de ética. Mas cada um sabe da sua própria consciência.
Mas esta conversa toda para quê? Para vos dizer que vou abrir uma exceção. Eu dou aulas há cerca de 10 anos e, neste momento, há algo que me assusta verdadeiramente nas escolas. Nada mais, nada menos, que o comportamento dos alunos. (Atenção! Aquilo que vou escrever a seguir prende-se com a minha experiência. Não quero com isto dizer que o mesmo está a acontecer em todas as escolas do país. Até porque em 10 anos eu passei apenas por 12 escolas.)
Nestes últimos dez anos tenho verificado que o comportamento dos miúdos, de um modo geral, se tem alterado neste sentido: têm aumentado os comportamentos de ansiedade, depressão e agressividade e diminuído a capacidade de tolerância, de procurar superar problemas e reagir perante uma dificuldade. Os meninos dizem com extrema facilidade "não sou capaz" e "não sei", mas raramente pronunciam as palavras "vou tentar", "eu ajudo-te" ou "vou conseguir".
O que é isto me demonstra? Que apesar de vivermos numa sociedade onde existe o culto da beleza física, estamos a esquecer de cultivar os egos e isto é preocupante. Estaremos perante uma geração de desistentes, desinteressados e incapazes? Não me parece. Pelo menos recuso-me a acreditar em tal facto. Mas a verdade é que vejo diariamente crianças derrotadas.
Faço muitas vezes uso do reforço positivo, talvez não tantas como deveria, mas é uma preocupação que tenho, porque efetivamente sou levada a crer que muitas das crianças com quem convivo deixaram de ser estimuladas nesse sentido.
Serei eu que tenho andado só por escolas onde este fenómeno é mais visível? Pode ser. Mas a verdade é que as escolas estão cada vez mais heterogéneas, havendo de tudo um pouco. O melhor, o pior e o médio. Por isso, se existe de tudo um pouco, não me parece que seja um problema único e exclusivo da região do país em que trabalho.
E pensam vocês: "Mas, C.S., não há bons alunos? Não há os que ainda demonstram entusiasmo com a aprendizagem?". Há claro que há. Mas a verdade é que são cada vez menos. Cada vez mais raros.
A resolução deste assunto passará apenas pelas escolas? Não me parece... Creio que este problema terá que começar a ser resolvido em casa e até acho que este problema deveria ser assumido, também, pelas entidades governamentais. Mas isso... Isso é tema para outra conversa.
(Imagem aqui)
E para terminar deixo-vos este link e este.